EU QUERIA, MESMO , ERA SER POETA! (4)
EU QUERIA, MESMO, ERA SER POETA (4)
DONATO RAMOS
01- O tempo passou. Os sorrisos são mais cansados, mas nem um pouco desprovidos de sinceridade. O amor, já mais cansado, não deixa de ser envolto da mesma ternura de antigamente.
Apenas os gestos são mais lentos, os andares mais pesados, as falas mais arrastadas e com textos cafonas no dizer de hoje. O tempo passou. Mas continuamos juntos, revivendo o que sempre gostamos nesse tempo todo.
02- Entre os sons que, nos campos e nas florestas enlevam, está o canto das aves ao romper do dia. Tudo dorme, ainda, no profundo regaço da noite quando algo estremece, num mover de folhas, num rumorejo.
O coração, ainda como que adormecido no silêncio da natureza, põe-se a escutar o primeiro trinado que tem o ar de um milagre.
E, de repente, espalha-se belo e amplo, o canto da madrugada,
Quem de nós não terá gravado no coração um sonho bom, uma lembrança melhor, doce ou amarga, de momentos que se foram e que uma canção muito antiga pode reviver?
A música fala em todos os momentos da nossa vida e nos leva como um passeio mágico - onde quer que a gente queira. Basta querer!
03- O que será, mesmo, a felicidade? Por que a gente não se contenta com o que tem, pondo apelido de felicidade naquilo que não alcançamos? Mas é sempre assim: mesmo que os filósofos se cansem de nos dizer, nós só reconhecemos o que tivemos depois que tudo está perdido...
A música, somente ela, vindo daquele passado tão distante tem o dom de nos fazer lembrar da época em que éramos felizes sem o saber.
04- Agora, por favor, silêncio. Respeitemos o poeta. Ele recorda o que foi e fala do que hoje é.
É a saudade do que se fez, do que se viu e sonhou o poeta, daquilo que não volta a não ser assim: no ambiente do silêncio que devemos ao poeta e ao cantor, quando falam dos sufocados sonhos nas estradas de cada vida!