Noutro tempo
Noutro tempo andávamos como escravos no deserto
Ávidos por água ou qualquer coisa que nos matasse a sede do desejo
Como loucos procuramos em outros corpos nos encontrar
Feito cegos caminhamos por ruas escuras e lugares desconhecidos
Estranhos nos roubaram a solidão e em troca não nos deram verdadeira companhia
Descobrimos como é cruel estar só, acompanhado!
Nesse tempo achava-mos que alegria se caça, feito tesouro no mar
Dizíamos estar à procura do amor, ignorantes à verdade de que ele é quem nos acha
Quanta gosma e conchas vazias encontramos a procura de pérolas!
Tentando expulsar nossos demônios em quantos porcos entramos!
Em busca de completude nosso ser se liquefez até não restar nada sólido.
Oh quanta ilusão, quanta nescedade! Trocamos ouro por lixo.
Como crianças negociando, nos vendemos por emoções baratas.
Trocamos verdades por mentiras, princípios por vícios.
Confundimos paz com idolatria.
No mundo descartável, sem culpa, nos alegramos em ser produtos.
Hoje a inquietação da busca não nos perturba mais
Descobrimos que a solidão só é inimiga quando não somos amigos de nós mesmos
Ainda ansiamos pelo amor...
E agora que cessamos de procurá-lo ele pode enfim nos achar.
Agora estando completos, podemos completar, agora nos amando, podemos amar.
15-10-07