[Barquinhos de Umbigo de Bananeira]

[Memórias da Fazenda Barreirão - Divisa Minas-Goiás]

Alegre, eu vinha do pomar da fazenda,

braços cheios de cascas de umbigos de bananeira;

corria para o alto da crista da invernada,

debruçava-me à beira do extenso rego-d'água,

e ali, sob a claridade estonteante do sol da manhã,

eu soltava nas águas claras e rápidas,

os meus barquinhos de umbigo de bananeira...

A cada lembrança boa,

a cada pensamento alegre,

a cada sonho de ser feliz num mundo distante,

eu soltava um barquinho na correnteza.

por entre as tenras ervas-de-santa-luzia,

lá iam eles, cruzando a imensa invernada,

levando as minhas ingênuas esperanças,

levando os meus sonhos de um mundo grande...

Aonde foram os meus barquinhos?!

As minhas mãos de criança não sabiam,

não podiam saber das grandes águas;

não sabiam que o mundo, o grande mundo,

haveria, enfim, de tragar os meus barquinhos

carregadinhos de esperanças, de sonhos...

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[Penas do Desterro, 05 de junho de 2008]