Declarações Moribundas

Declarações Moribundas

ou

como as coisas nunca mudam de fato.

Éramos filhos de gerações – que não geravam ações, apenas a experiência de erros que não deveriam ser repetidos.

Éramos muitos: fardados, naturalistas, modistas e contra tudo que fosse dito proibido.

Éramos luz e trevas ao mesmo tempo – e ainda assim ajoelhávamos nas catedrais espirituais em busca de alguma salvação.

Éramos príncipes, plebeus e as vezes democratas que sacudiam as ruas com placas e faixas reivindicando alguma mudança na consciência coletiva.

Éramos trabalhadores e acreditávamos que a carga horária do dia nos tornaria a futura elite do país.

Éramos bárbaros – matávamos por comida e por um pouco de fogo e sexo

Éramos pré-colombianos, pré-greco-romanos, pré qualquer coisa escrita pela história oficial. – e ainda tiveram a ousadia de nos catequizar, estuprar e classificar nosso chão de Brasil Colônia.

Éramos revolução industrial: fábricas, camponeses em áreas urbanas, favelas crescendo, densidade demográfica, fome, miséria e falta de saneamento básico.

Éramos anarquistas, comunistas, populistas e fazíamos reuniões politico-intelectuais sem ao menos sentirmos no paladar o gosto do feijão requentado. (ou até a falta do mesmo)

Éramos padres e madres – rezávamos antes mesmo do sucumbir do sol e em noites enluaradas éramos insistentemente perseguidos pela voz do Demônio da Luxúria.

Éramos Ladys e gentlemans – freqüentávamos as melhores festas, fumávamos charutos contrabandeados e no final do mês nossos cheques especiais estavam estourados.

Éramos artistas marginais – escultores, pintores, escritores e compositores. Até o dia em que a Industria Cultural levantou uma cerca e transformou as grandes obras em linhas de produção.

Éramos leais militares – direita, esquerda, volver! Nossa marcha era conduzida pelo patriotismo, idiotismo e porquê não dizer: fascismo!?

Éramos a pequena burguesia – cidadãos médios, assalariados, diplomados, comungados e porquê não dizer: conformados!?

Éramos tudo isso – um bando de ações que mataram as gerações.

Lisa Alves
Enviado por Lisa Alves em 04/06/2008
Código do texto: T1019117
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