A BELA ADORMECIDA
Era um lugar fechado, uma muralha antiga, inescalável.
Ela estava deitada, ali dentro, em uma escadaria que levava ao Nada.
Dejetos secos de animais e um pó milenar decoravam o ambiente (não-umido e não-seco)
Era confortável, apesar de não ser o leito que a acolhe todas as noites.
Era amável para os acomodados.
Gritos distantes eram ouvidos e ela esboçava um sorriso quando reconhecia a voz de quem a chamava.
Mas continuava ali, em posição fetal, junto ao pó e aos dejetos secos de animais.
Não havia nada mais a ser feito e terminar naquela escadaria era mais do que merecia.
Ela assistiu muitas coisas: impérios caindo, impérios levantando. Mas nenhuma Roma era comparável com aquilo ali (tão seu, tão caracterizado, tão poético e tão triste.).
Quem era ela?
Não era alguém, apenas minha pátria se escondendo.
Lisa Alves