A SENSUALIDADE
Eu não tenho hora...
Vivo a fuçar na caixa da Pândora.
Sei que lá existem muitos segredos.
Foi lá que vi pela primeira vez a linguagem da sensualidade e fiz dela minha roupagem.
Claro que a cor da vestimenta era preta, uma língua que mais se insinua do que fala, reticente... Assim cria o instinto, o diferente. Se você não tem receio das castanholas, dos chocoalhos, do contato e de tudo que te afia e amola; te convido a entrar na dança do meus sete ventres...
Primeiro ventre, invente! Rasgue o véu, encare de frente, porque olho-no-olho, palavras encolhem, perto do globo dilatado que sente.
A respiração aqui é ofegante, uma prece, arfar de hálitos, bocas sorrateiras criam uma neblina, um fog com fogo, densidade do frio com o quente, sauna de dentes, facas por línguas, ranger de gemidos estridentes.
A pele é o contato, de escama a escama se abrem os poros, suor escorre sem gravidade, cai num poço chamado instinto.
Cheiros estão desnomeados, não existe gênero, é tudo trajeto, coxa sobre coxa, dedos entrelaçados, a sola do pé ainda tenta ser o fio terra com medo de perder o contato, de tão desnorteado!
Aqui não existe antena, a parabólica é um estado vertiginoso, o ritmo é vigoroso, tudo é um translado.
Não tem guia, só se escuta um chamado, mesmo sem saber do contorno do outro, se vai...
- os cabelos viram flechas atestando o destino
- os pêlos magnetizam os pólos
- a virilha dá movimento e vida aos quadris
E assim se sabe o caminho...
O tato perde a mão, o braço aciona o relevo, o músculo vira só abraço, tudo se intensifica entrelaçado.
Os joelhos estão sem rótulo, dependem de um fêmur ou uma fêmea engatada, o corpo é só um gingado.
A exploração do outro conhece todos os ritmos: rebolado, gafieira, tango, xaxado e rock you all night long!
Enfim toda válvula expele, contrai e envolve... a vulva, vulto da vida.. só o que me ocorre dizer quase ao final da minha pequena e consecutiva morte é que estou mais viva e seletiva do que nunca!