Fábrica de sentimentos
O amor é o melhor fermento para poemas: transforma qualquer simples mortal em uma máquina de rimas, um ser alucinado, que vê poesia nas coisas que antes nem enxergava. Quem ama, sente a segunda-feira como domingo e a chuva, um convite a brincadeiras....
O amor é também um grande malandro, destes que usam perfume barato e têm uma mulher em cada cidade. Chega quieto, mansinho e com sua voz rouca e quente transforma as mais nobres virtudes em um desejo incontrolável de se perder e, em se perdendo, finalmente se encontrar.
O amor é uma criança ingênua, sapeca. Faz sorrir sem saber o motivo, cantarolar numa fila de banco, se lambuzar tomando sorvete de chocolate, fazer careta no espelho...
O amor faz os enamorados sentirem-se bobos, quando, na verdade, pela vivência do sentimento estão começando a amadurecer. Quem ama faz sacrifícios, suprime palavras, engole as lágrimas e até chora para fazer sorrir o amado: o amor necessita de desprendimento e humildade.
O amor é por vezes confundido com a paixão, mas ele é o que fica quando o desejo vai embora. É o abraço calmo, seguro, apertado, mas respeitoso, como o som de uma valsa num aniversário de quinze anos; a paixão é ansiedade, aperto frenético, invasão, um rock maluco em noite abafada de verão.
O amor é fábrica de sentimentos que, transcritos em versos, aliviam a ausência de quem se ama e expressam com propriedade a alegria de estar junto.
O amor pelos filhos... Dentre os olhares de amor, dos olhares de dor, todos os olhares, nada se compara ao olhar de uma mãe ou um pai falando sobre sua obra. Doação, entrega sem reservas, uma comunhão de almas que se conhecem e enfim, se reconhecem, um reencontro que pode acontecer no nascimento, no casamento ou na calmaria de um fim de tarde. Continuação de tantas vidas, razão de ser de duas pessoas, laço eterno que as dificuldades da vida só aprimoram...
O amor é assim, deste jeitinho mesmo, as pessoas é que complicam. Pelo amor não haveria dúvida, silêncio, lágrimas numa conversa por telefone. Por amor reina a liberdade, o choro conformado, a aceitação da separação, a compreensão de tantas lacunas. No amor verdadeiro (não o suposto, mas o vivenciado) o aprendizado é diário, o rosto da companheira é mais lindo quando acorda, a perfeição do querer se expressa em vários momentos do dia. No café quentinho, no pão cortado, na palavra ao pé do ouvido, no beijo roubado. Pequenos detalhes edificam o amor, tijolo por tijolo, que após as tempestades da vida, ressurge sempre, majestoso.
O amor é o meu sentimento por ti... É uma das minhas poucas certezas, desde o instante em que te revi.