Fantasma

Por quê? Por quê?

Por que sou tão insignificante diante do tempo, da existência?

Minha dor exala seu poder consumidor, na qual as palavras se afogam, sufocam, sem direito à vida.

Condenada ao sofrimento, que mesmo morta mantém viva minha matéria humana.

Morta por sentir, por desejar, por amar.

Inocentes... Somos inocentes.

Vítimas da ausência de autodomínio.

Presa à senzala, submetida as mais duras penas da intensa escravidão.

Espelho parcial da natureza, à qual se reflete o inverno e a sequidão das folhas outonais.

No entanto, me mantenho invisível, pois nem mesmo a natureza reconhece tal sofrimento,

Condenada a vagar sem companhia, como fantasma pelo espaço, assombrando a mim mesma.

A quem recorrer?

Sim, há esperança de consolo.

Inúmeros fantasmas se chocam na sequidão do outono.

Seus lamentos molham a terra e a fertilizam, gerando a força da vida.

Vida que mantém o ciclo da existência.

Existência?

Sim, até mesmo os fantasmas existem...