Palavras paridas
Não gosto de textos planejados, inertes,
Gosto de verter palavras, que venham fluidas,
Sem importar qual tom sejam recobertas,
Qual fel ou qual doce nelas se entranhem,
Que venham minhas, absolutamente livres e abençoadas,
Benditas ou não,
Que nunca se encarcerem,
Que ultrapassem grades e prisões,
Que exorcizem os medos,
Afastem os temores,
Cravem-se nas memórias,
Exteriorizem os sentimentos,
Exponham,
Espelhem meu perfil, dispam-me,
Revolvam,
Ressurjam sempre quando suspeitas do fim,
Que sejam a fotografia de espasmos de lucidez,
Que me radiografem a alma por completo,
Que alegrem os loucos,
Se compadeçam das misérias interiores,
Que sejam letras perturbadoras, reflexivas,
E lavem as almas revoltosas,
Que venham sempre,
Abundantes e surpreendentes,
Que acima de tudo e apesar de,
Sejam as minhas impressões compartilhadas,
Expostas ao mundo,
Invadindo com permissão,
Acréscimo de um ser que não se sente plenitude,
Por isso quer sair,
Carece dividir,
Precisa transpor os limites da mente, do corpo que é delimitado,
Quer ter fim sem porém terminar,
Não quer ser só palavras ao vento,
Quer ser palavras,
Imersas,
Intensas e invioláveis,
Palavras,
Concebidas,
Gestadas,
Paridas. afinal....