A (r)evolução do Poetrix - 25 anos

Estamos nos aproximando dos 26 anos de nascimento do Poetrix. Esta proximidade tem despertado em mim uma questão que considero relevante e oportuna: Como evoluiu o terceto durante esse período?

Costumo dizer que minha mente é como uma "Caixa de Pandora", começo a escrever e não tenho certeza onde vou chegar. Sinto que estou avançando bastante, sempre em busca de novas direções. Hoje vou focar nos 25 anos de nascimento do Poetrix. É necessário mencionar que ele foi concebido pelo poeta baiano Goulart Gomes, no final de 1999. Parece que foi ontem, o tempo voou tão depressa que preciso documentar tudo o que experimentei nesses breves anos de intensa poesia e fraternidade entre todos os que se beneficiaram desta grande comunidade que é hoje a família - Poetrix.

Inicialmente, éramos um grupo restrito de poetas que mal se conheciam. Eu, por exemplo, não conhecia ninguém do grupo. Todas as comunicações eram realizadas por meio de e-mails. Tudo se passava no Yahoo! Um website localizado em Sunnyvale, Califórnia.

O Poetrix surgiu sem normas estabelecidas. Goulart Gomes nos orientava a respeito dos acontecimentos e as funções de cada um de nós dentro do grupo. A poeticidade fluía sem um direcionamento definido, mas rapidamente começamos a estabelecer o que viria a ser o Poetrix. Inicialmente, era um terceto parecido com o haicai, sem título e com assuntos livres e variados.

Ao longo do tempo, construí um muro de proteção para mim: Tê Soares me chamava de Pedro, Pedrinho; Hércio Afonso sempre me chamava de irmão; Aila Magalhães me chama de Padrinho. Conheci Aila e Tê Soares numa sala de bate-papo online - "Papo-cabeça". As conversas sempre giravam em torno de poemas extensos. O primeiro poema enviado pela Aila retratava um garçom. Gostei tanto que a incluí no grupo do Yahoo. Tê Soares tinha o hábito de completar meus poemas. Ou seja: ela estendia as estrofes. Assim, surgiu a ideia do Duplix.

Para mim, o Duplix é um capítulo à parte. Ele chegou para nos fazer parceiros eternos, coautores inseparáveis. Ele nos conectou de tal maneira que não conseguimos mais nos distanciar enquanto poetas que somos. Tenho uma profunda gratidão pela colaboração com a Tê Soares. Lamento que ela tenha divulgado tão pouco dos seus trabalhos.

Tive a honra de ler uma coletânea de textos seus, mas, infelizmente, não consigo localizar esses escritos tão valiosos. É possível que seus parentes os tenham preservado.

O Poetrix nos apresentou indivíduos fascinantes e inexplicáveis. Uma das participantes foi Sara Fazib. Os seus textos sempre me fascinaram, serviram como guia para mim, proporcionaram um direcionamento para as minhas criações literárias. Ainda hoje, o seu nome permanece um enigma para nós. Ninguém tem certeza de sua origem ou destino. Assumo que durante todos esses anos procurei entender quem era ou quem eram sara fazib. Acredito que Sonia Maria Ferreira de Godoy e Sara Fazib são a mesma pessoa. Possuo algumas evidências que podem confirmar o que afirmo. Uma delas é que, após a morte de Sonia Godoy, não tivemos mais notícias sobre Sara Fazib. Muitos poetas aderiram ao novo terceto e vários se foram sem deixar grandes registros... Uma pena!

Posso afirmar que sinto uma imensa falta daquela época. Já, de certa forma, distante. Nós éramos um pequeno grupo, mas entusiasmados com o novo e promissor gênero literário. Era cada um por si e Deus por todos. Conversávamos bastante. A produção estava sendo intensificada. Éramos uma família, com todos buscando se auxiliar e auxiliar uns aos outros. Nós tínhamos a prerrogativa de questionar: E se fosse assim? O escritor tinha a opção de aceitar ou não a sugestão. Este recurso foi amplamente utilizado por cerca de dois anos. O bastante para estabelecermos uma conexão produtiva.

O tempo passou, o Poetrix evoluiu. Vejam este exemplo de minha autoria do início do movimento. É desta forma, que vou tentar explicar a evolução do Poetrix na sua totalidade:

Fome

o abismo

entre a mão e a boca

tem nome...

Este Poetrix é um fragmento de uma frase que escrevi para uma placa de formatura de alunos de uma turma do curso de Direito de uma cidade do estado de Goiás. É literalmente uma frase, um poema sem nenhuma preocupação com qualquer regra que seja. Mas é um "terceto" interessante, ele é cíclico. Sua leitura nos remete ao título todas as vezes que o lemos.

Naquela época o que mais importava era a natureza poética, a sonoridade e a concisão, ainda não tínhamos o limite das trinta silabas poéticas. Nem o título era obrigatório. Era tudo insipiente. Naquele momento, nenhuma regra era exigida. Algumas pessoas do grupo continuaram escrevendo tercetos sem título por um bom tempo. O que me leva a crer que, alguns poetrixtas, eram adeptos do Haicai e outros, provavelmente, da Terza Rima.

Hoje percebo que existia uma aproximação maior com o Senryu e não com o Haicai que era praticado pelas elites japonesas.

Em 2009 por iniciativa dos poetas Goulart Gomes, Hércio Afonso e Jussara Midlej, criou-se a Bula Poetrix. Com esta ferramenta em mãos, mudamos completamente o nosso percurso. Regras foram estabelecidas e cobradas. Passamos a usar os ensinamentos de Ítalo Calvino, no que diz respeito as Seis Propostas para o Próximo Milênio.

Tínhamos, também, as contraindicações. A principal delas refere-se ao fatiamento de frase para se compor um Poetrix. Este foi, e ainda é, um dos grandes entraves do terceto. É importante observar que não era uma proibição, mas sim uma recomendação.

Vou exemplificar esse momento com um Poetrix de minha autoria dessa época.

Beirais sem ninhos

fecho os olhos.

cansado de voar

sem você, não há flores nem frutos

Este é um exemplo de 2009. Aqui começamos a fazer uso das metáforas e do susto, com mais assiduidade.

Pois bem!

Ele tem um título legal. Bem expressivo.

Ficou interessante a passagem do segundo para o terceiro verso. O problema é que a ação do segundo verso, continuou no terceiro, criando aí, um fatiamento clássico, mas é uma artimanha interessante.

A expressão "não há flores nem frutos". Ou seja: não há ninhos nem filhotes. Um verso forte dentro do contexto. Veja que o verso está intimamente ligada ao título.

Já em 2022, com o lançamento das Novas Diretrizes, demos um salto gigantesco, uma verdadeira (r)evolução, em todos os sentidos. Passamos a cobrar, com mais rigor, o não fatiamento. Mas esta é uma questão de foro íntimo, isto não implica dizer que o Poetrix fatiado deixou de ser Poetrix. Os autores continuam escrevendo como bem entendem. A questão é que no Blog da Academia, não se publica mais Poetrix fatiado desde que foi implementada as Novas Diretrizes.

No meu entender, o Poetrix ganhou um impulso muito grande: deixou de ser um terceto com características de Senryu, saltando para um patamar único, com características bem marcantes e fortes. Por que estou dizendo isto? Muito simples: os versos agora são independentes, tem vida própria. Isto não existe em outros tercetos. A dificuldade para se compor o "novo" Poetrix é bem outra. Hoje ele não se adequa ao lugar comum de antes. Ele vai muito além do que lá está posto. Podemos encontrar, em um mesmo poemas, o susto, a metáfora, o salto, a leveza... E assim vai.

Vou exemplificar o que acabo de dizer.

Morte súbita

a palha cobria o telhado

sujeito sujo e difuso - objeto

pés juntos, no sopé da cama

(Pedro Cardoso)

1 - Vejam a leitura do poetrixta Darlan Torres.

Apresento mais uma obra do poeta Pedro Cardoso para contemplarmos. Desta vez trago a joia "Morte súbita", que acabou de sair da ponta da caneta do poetrixta.

Na primeira linha, "A palha cobria o telhado", traz a imagem de um casebre abandonado ou negligenciado, possivelmente relacionado à ideia de desolação e decadência. Essa imagem de abertura é bem sombria e estabelece o tom e o cenário para o resto do Poetrix.

Na segunda linha, "sujeito sujo e difuso - objeto", é intrigante, pois cria um contraste entre a aparente sujeira e confusão do sujeito mencionado e a palavra "objeto", que sugere uma objetificação ou despersonalização da pessoa em questão. Essa ambiguidade pode ser interpretada como um comentário sobre a desumanização da sociedade ou sobre a falta de identidade do sujeito retratado.

Na terceira linha, "pés juntos, no sopé da cama", revela uma imagem de morte ou de uma postura típica de um cadáver. A expressão "pés juntos" é geralmente associada a uma posição de repouso eterno, intensificando o clima macabro no poemeto. Essa combinação de elementos - a decadência, a objetificação e a morte - dá uma sensação de desconforto e inquietude no leitor.

O Poetrix em tela é muito eficaz ao transmitir uma sensação de melancolia e desespero através de uma linguagem precisa e concisa, conforme exige as normas técnicas do Poetrix. A seleção de cada vocábulo empregado na composição da peça, bem como das imagens, auxilia a construir essa atmosfera sombria que desperta intensa emoção e reflexões no leitor.

A pílula "Morte súbita" é sem dúvida uma peça poética impactante!

2 - Veja uma segunda leitura, agora da poetrixta Valéria Pisauro:

"O que mais me chamou a atenção nesse Poetrix, foi a forma surpreendente que o poeta Pedro Cardoso traçou a relação entre o verso “a palha cobria o telhado” e o título.

O telhado de palha nos dá uma falsa sensação de proteção, devido a sua fragilidade. Ele impede de vermos o céu. É o divisor entre a terra (vida) e céu (morte).

O “sujeito sujo e difuso - o objeto”, é o impuro, o pecador, que por muitas vezes, navega por mares da vaidade, torna-se um “objeto”, sem reconhecer sua precariedade, sua mortalidade.

Essa relação alerta sobre a insignificância do homem perante a vida, que somos mortais e que esse “telhado” pode desabar a qualquer momento – “pés juntos sugere morte."

Conclusão:

Nem vou entrar no mérito das leituras. Mas através delas é possível ver o quanto o poema cresceu, expandiu para além dos seus três versos. Tanto a leitura do Darlan quanto a da Valéria nos levam a fatos que nem eu havia percebido, isto é muito significativo.

O Poetrix, hoje, não pode ser comparado a uma fotografia. Ele tem que ser visto como um poema dinâmico, reflexivo, instigante, sofisticado e tudo ao mesmo tempo, sem que haja perda na qualidade.

Vejam como há uma independência total dos versos. Vou mudá-los de posição só para exemplificar.

1 - Morte súbita

sujeito sujo e difuso - objeto

a palha cobria o telhado

pés juntos, no sopé da cama

2 - Morte súbita

pés juntos, no sopé da cama

sujeito sujo e difuso - objeto

a palha cobria o telhado

3 - Morte súbita

a palha cobria o telhado

pés juntos, no sopé da cama

sujeito sujo e difuso - objeto

Atualmente contamos com a Academia Internacional Poetrix - AIP, um passo gigantesco para o desenvolvimento e aperfeiçoamento do Poetrix. Desejamos que em breve teremos todas as 40 Cadeiras preenchidas, hoje contamos com 28 acadêmicos dos mais diversos níveis de escolaridade e profissões. Essa mistura nos fortalece e nos engrandece. Somos uma família onde a maioria dos poetas são mulheres. Antes tínhamos paridade de gêneros, mas na última eleição, elas ocuparam um maior número de Cadeiras.

Acabamos de publicar a segunda revista da Academia. Com certeza um documento importantíssimo para a comunidade poetrixtas. Uma revista bastante técnica e abrangente. Visa principalmente a disseminação do terceto nas escolas de ensino fundamental. Um sonho dos acadêmicos que vem sendo realizado.

Ah! Vou parar por aqui, meus pensamentos voam. Minha cabeça, já disse: é uma Caixa de Pandora. Temos em nosso quadro, 28 Acadêmicos, um feito importante para o desenvolvimento de nossas atividades e objetivos.

PS: é engraçado pensar em evolução, na verdade as coisas estavam todas aí, o problema é que fomos colocando mais e mais coisas em nossas vidas.

... E viva a poesia!!!

Pedro Cardoso DF
Enviado por Pedro Cardoso DF em 28/03/2025
Reeditado em 29/03/2025
Código do texto: T8296161
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