Eu e meus porquês
Estou pensando. Acho que sou louco, ora acredito que não. Assim vou me divertindo com os tercetos. Poemas difíceis, estilosos e perigosos. Às vezes eu discuto com eles sem pensar muito. É uma luta. Passo para um lado e vou indo. Caminhos a ferro e fogo. É uma boa briga, às vezes bato, às vezes vou a nocaute.
Os meus porquês não são simples. Quando penso que estou indo bem, já estou errado. Quando acredito que o meu terceto é um achado, dizem que não é. Não consigo mudar! Vira outra coisa. Tento refazê-lo, não tem jeito. Para não perder o costume e o leitor, vou construir uma nova linha para esses tercetos. Vou lhes dar uma nova arquitetura, uma nova forma, uma outra estética. O que era para ser um terceto, agora será um poema de versos livres.
Um exemplo:
Fome
a distância
entre a mão é a boca
tem nome...
Se formos ler ao pé da letra é uma frase fracionada em três versos irregulares. Mas não é apenas isto que tentei dizer. É um ciclo vicioso, não tem fim. A reticência no último verso, indica isto. Sempre volta para o título. A fome é isto!
Mudando para os versos livres vamos ter:
Fastio
a distância
entre
a mão é a boca
tem nome...
fome
Dei ao novo poema um título para que não fique registrado como um filho pagão.
Outro exemplo da poeta Marilda Confortin.
Bipolar
Ontem, quase me matou.
Hoje, manso como cão lambe meus pés,
o imenso mar.
Bipolar
Ontem,
quase me matou.
Hoje,
manso como cão
lambe meus pés,
o imenso mar.
Vejam que coisa interessante: de três versos, passaram para seis sem perder o significado. Nesta nova dinâmica quem perde é o terceto.
... E viva a poesia!!!