Acordei com vontade de sonhar....
Acordou com vontade de sonhar.
Era tempo de costurar aquela ferida que lhe oprimia o peito e que quase não o deixava respirar, para isso iria usar a fita colorida que a esperança lhe tinha emprestado. Aquela fita que ficara esquecida na gaveta do coração quando o passado lhe virou a vida do avesso.
Estava (in)conformado com o tempo que com ele (con)vivia. Por isso, hoje olhou para os raios de sol e descortinou no céu as cores vivas do arco-íris. Decidiu arrumar a escuridão no quarto do fundo para que ela não o impedisse de viver com emoção.
Saiu para a rua sozinho e sorridente. Lavou a cara com a chuva que ontem caiu abundantemente naquela rua e foi essa água que levou as mágoas para o rio que corria para o mar infinito onde a tempestade nascia e o horizonte lhe parecia demasiado distante para o poder tocar.
Encostado à porta azul ouviu o ruído longínquo da multidão que festejava algo que desconhecia e que quase de certeza não seria importante. Vestiu o casaco branco esburacado pelo tempo e surpreendeu-se quando o frio não se aproximou dele.
Sentiu-se formoso ali sozinho, nas mãos da vida que lhe prometia um futuro com o sabor daquele sonho que carregava no coração.
Sorriu para a criança que continuava a crescer dentro dele e que o viu torna-se num homem indeciso que se deixou durante demasiado tempo levar ao sabor do vento da solidão que lhe negava o desejo de amar alguém e de provar um naco dessa felicidade que lhe trouxesse de volta o sorriso dessa criança que sonhava ser feliz quando fosse grande.
Hoje, essa criança despiu-lhe o passado e mostrou-lhe que existe um presente em que pode e dever viver sem pensar no amanhã que chegará quando for o tempo dele. Pensou com o coração e não deu ouvidos ao passado que tanto lhe pesava nos ombros.
Acordou com vontade de sonhar e encontrou coragem para ser livre e viver ao ritmo do amor que chamava por ele para lhe mostrar que nem só de dores é feita a vida.