Berlinda

Beijos

bocas,

nós

atados

Olá pessoal!!!

Vou fazer algumas considerações iniciais a respeito do Poetrix em questão, para depois, comentar as observações que foram feitas por cada um de vocês.

Dizem que: "Quem gaba o toco é a coruja". Assim sou eu quando o assunto é o Poetrix.

Acredito, piamente, que este seja um belo exemplo de Poetrix, por todas as razões que foram apontadas por cada um de vocês mesmos.

Pois bem... vejam que o título casa perfeitamente com o texto. Ele direciona claramente o leitor e, por si só, já revela pistas concretas do que poderá vir camuflado no texto e contexto.

Ele é muito simples na escrita, são apenas quatro palavras, incluindo o título.

Notem que no primeiro verso eu digo: "bocas,". A vírgula, aqui, é de fundamental importância. Ela representa uma pausa para que o beijo aconteça de fato e de direito.

Sei que muitos poetrixtas não gostam de usar os sinais de pontuação em suas composições, preferem deixar para o leitor esta função. Este não é o meu caso.

Quando uso os sinais de pontuação, como a vírgula, por exemplo, quero que o leitor leia e sinta, o que eu escrevi. Quero que ele tenha a exata dimensão da minha fala. E que, a pausa, seja dada onde foi determinada. É importante lembrar que ela reproduz na escrita nossas emoções, intenções e anseios. Com isso, acredito que o leitor possa fazer uma comparação entre o que ele leu e uma possível leitura diferente da que o texto propõe.

O segundo verso diz: "nós". Aqui está o grande lance deste terceto. O verdadeiro "salto", tão desejável no Poetrix.

O "nós" pode ser lido como sendo duas pessoas. Ou, também, como os "nós" que atam e desatam , pessoas ou objetos.

No terceiro verso eu digo: "atados". Que deve ser entendido como pessoas unidas pelo beijo.

Outra análise, outro ângulo relevante que desejo comentar nos mínimos detalhes: uma das grandes e desejáveis características do Poetrix é a concisão.

Vou demonstrar como se dá a contagem das sílabas, neste Poetrix, para que possam visualizar o elemento - Concisão.

Na separação de sílabas, no modo convencional, temos, no texto, 6 sílabas, o que já é um número ínfimo para qualquer texto, seja ele, poético ou não.

Vejam:

bo-cas ----> (2 sílabas)

nós ----> (1 sílaba)

a-ta-dos ----> (3 sílabas)

Vejamos agora o que acontece, usando o mesmo processo de separação, mas na contagem das sílabas métricas.

Na divisão do poema em sílabas métricas, de acordo com a tonicidade, vamos encontrar apenas 4 sílabas. A meu ver, um absurdo de concisão. Um fato memorável, se levarmos em conta que o Poetrix permite até 30 sílabas métricas.

Vejam:

bo-cas ----> (1 sílaba [1 = 2-1])

nós ----> (1 sílaba)

a-ta-dos ----> (2 sílabas [2 = 3-1])

Outra observação:

Com esta configuração, é praticamente impossível mudar qualquer uma das palavras sem que o texto perca sua identidade.

É importante destacar que este Poetrix tem, ao todo, 4 vocábulos. Isto nos leva a crer, que ele é exato e, que, sem sombra de dúvidas, o menos é mais.

Fico imaginando este Poetrix em um outdoor, numa mesa de bar, numa camiseta, num quadro na parede, ou até mesmo na entrada de um cabaré. Acompanhado de uma bela imagem de beijo, ficaria fantástico!

.......

Seguem minhas observações depois que todos leram, comentaram e deram suas opiniões. Agora vou expor a minha leitura e dar justificativas, as quais acho adequadas ao que foi dito pelos Acadêmicos no espaço ajustado para a Berlinda.

Para começar, vou falar um pouco do processo criativo que foi adotado por mim na construção do poema.

Na verdade este Poetrix é uma homenagem a obra - "O Beijo", do escultor AUGUSTE RODIN, que inspirou-se nos delírios amorosos vividos com Camille Claudel.

Tenho, em um móvel, ao lado de minha cama, uma réplica dessa escultura. Portanto, a vejo e a admiro, todos os dias - um presente lindo de minha mulher. Daí nasceu a ideia do poema. O Poetrix em si, é um "retrato" da obra, composto por pouquíssimas palavras - versos minimalistas. Tentei transportar para o papel o que foi esculpido no mármore de forma sublime. É, sem dúvida, uma das obras mais famosas do artista francês, produzida entre os anos de 1882 a 1898.

Vamos aos comentários.

Vejam o que disse a Dirce Carneiro em sua avaliação: "por que não toca emocionalmente? Por que não causa o transporte poético, pelo menos em mim, apesar de ser tão cirúrgico?".

Este questionamento foi recebido por mim, como uma indagação instigante. Contudo, ficou claro que ela foi tocada pelo texto, houve ali uma interação entre o poema e a leitora. De alguma forma, aconteceram "toques" sutis entre um e outro. Mesmo que não tenha sido algo muito relevante. Mas, por que isto aconteceu? Bem... é quase impossível transmitir poeticidade plena em uma ideia com tão poucas palavras. O que foi dito por mim, está gravado nas entrelinhas, no duplo sentido, na imagem que o poema transmite. Ela percebeu isto, só que, não permitiu que sua memória poética concretizasse os sentimentos inerentes ao beijo propriamente dito... infelizmente!

Vamos ver o que disse a Andréa Abdala..."Eu fiquei lendo e relendo o Poetrix antes de vir aqui". O Poetrix é isso, o leitor tem que ser afrontado, instigado.

É preciso que se leia o que não esta posto. O que está escrito é meramente uma formalidade.

Ela tanto leu e releu, que no final, disse: "parece curto mas eu não o senti assim". O que mais se pode esperar de um leitor?!

Vamos ver a leitura do Goulart "Algo bom no Poetrix é permitir ao leitor se apropriar do texto, fazer dele uma coisa sua, expandi-lo. Eu fiquei imaginando duas línguas se enroscando, se atando, dando nós. Esse Poetrix leva o minimalismo ao seu máximo, ao estado da arte".

Isto era o que eu muito poderia querer "ouvir" em relação ao Poetrix. Se o lermos como manda a Bula, ele é preciso. Tem tudo a ver com o que lá está posto. É conciso, é de uma leitura fácil, é exato, é leve, tem duplo sentido, tem susto, tem salto, tem Calvino.

"Ricardo Mainieri. A engenharia do Poetrix é interessante. A palavra nós ampliando seu significado. Dizendo dos nós a serem desatados (ou não) e nós da primeira pessoa do plural. O sentido da união, da intensidade. Num minimalismo pleno, cumpriu seu papel de seduzir e informar".

Uma avaliação tocante. Ficou claro que o leitor foi tocado, foi chamado para a festa e dançou divinamente.

Marilda Confortin me disse: "... não traz novidades. É difícil ser criativo num terceto, usando apenas uma palavra em cada verso". Esta é uma leitura, a meu ver e juízo, literal. Assim sendo, concordo plenamente com essa afirmação, mas isto só reforça a complexidade do poema. Ele não tem nenhuma novidade, não tem mesmo! É a mais pura verdade. As palavras e o enredo são bem comuns no linguajar cotidiano. O beijo é um ato, até certo ponto, corriqueiro em nossa sociedade. um gesto que é repetido milhares de vezes ao dia. Isto me fez lembrar de Maria Clara Machado que disse: "todas as histórias já foram contadas, conte a sua". Por isso, tentei escrever a minha, só que , de um jeito lúdico e criativo.

Lilian Maial, falou o seguinte: "No entanto, a meu ver, perde um pouco na concisão excessiva, que acabou por enxugar demais a poesia".

Para mim, um dos grandes desafios do Poetrix é a concisão. É importante observar que o poema é conciso apenas na forma e na estética. Na simbologia é enorme, vai muito além do que ali está retratado. Na verdade ele não tem apenas três vocábulos, pois, o duplo sentido e a polissemia, deixam claro que outros vocábulos estão ali registrados, permitindo novas leituras e sensações subliminares.

Outro ponto que foi observado: "Eu trabalharia mais a poesia e o título". O título, a meu ver, está perfeito, por ser claro, e direcionar o leitor. Está nitidamente adequado ao texto. Por outro lado, a poesia está no sentir, no olhar, no imaginar, no permitir-se.

Lembro... neste Poetrix, o menos é muito mais.

Marília Baêtas. Vamos lá..."é muito difícil realmente se atingir o leitor com versos tão enxutos". Confesso que passei algumas horas tentando enxugar o poema ao extremo. Esta é uma tarefa árdua, que requer muito cuidado para não castrar a poesia. Acho que isto não aconteceu, pois, no final da abordagem ela disse: "Gostei". Isto é o que mais importa.

Regina Lyra: "Este é um ‘poemínimo’ (Poetrix) bastante interessante dentro da procura exata das palavras". Isto é exatamente o que diz a Bula, quando se refere a concisão. Concordo plenamente! Essa é a minha proposta.

Em outro trecho ela diz: "procura exata das palavras". Neste ponto ela destaca a ideologia da arte pela arte. Sim, é evidente! Me preocupei com a estética e as palavras do poema porque ele representa, para mim, a leitura da escultura de Rodin - estilizada. Em outro momento mais poético ela diz: "As línguas trançadas formam nós dentro da Boca". Aqui não temos mais a preocupação com o prazer Estético, ou seja, a arte pela arte. É bom lembrar que os ideais poéticos, clássicos, tiveram uma grande influência no Parnasianismo. Movimento exclusivamente poético: dedicou-se apenas à forma da poesia.

Rosa Pena disse: "Não tem poesia. Não tem salto, não tem susto como tanto exigem no grupo. Falta emoção". Bem, esta é uma leitura possível. Infelizmente não concordo com ela, mas respeito a leitura que foi feita.

Este poema é apenas uma referência literária que permite ao autor expressar seus mais puros sentimentos.

É por isto que sempre digo: E viva a poesia!!!

Pedro Cardoso DF
Enviado por Pedro Cardoso DF em 02/12/2021
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