Entrevista
Entrevista concedida a pedido do meu amigo Lorenzo.
Agradeço a oportunidade!
Editores da Revista Poetrix:
Rosângela Trajano
Lorenzo Ferrari
Editorial
A Revista Poetrix (https://www.revistapoetrix.com.br) é bimestral e tem o objetivo de divulgar este estilo poético
que há vinte anos foi criado por Goulart Gomes, brasileiro, e baiano.
Neste segundo número trazemos uma entrevista com o renomado
poetrixta Pedro Cardoso.
Na seção ciranda, uma ciranda com o tema sobre a mulher dos poetrixtas
do nosso grupo Ciranda Poetrix do WhatsApp, mas estamos abertos a
receber poetrix de qualquer lugar do mundo e em qualquer idioma.
A ciranda “Mulher” foi escrita no Dia Internacional da Mulher neste
ano. Contou com uma boa presença dos nossos poetrixtas, no entanto
acreditamos que no próximo número teremos uma participação maior
dos nossos membros. Todo começo é difícil e exige dedicação e muito
trabalho, não foi diferente conosco.
Também pensamos em acrescentar outras seções à revista quando ela
receber o seu ISSN. Aproveitamos para agradecer ao fotógrafo Lorenzo
Ferrari que carinhosamente nos cedeu as suas fotografias para ilustrarmos
o nosso segundo exemplar.
Desejamos a todos uma boa leitura a todos!
Os editores.
1- O que você acha que mudou nestes vinte anos de poetrix?
R - O perfil dos poetrixtas teve uma mudança significativa.
Antes éramos um grupo extremamente participativo. A interação entre nós era uma marca registrada. Os autores ofereciam seus poetrix à berlinda, para que fossem lapidados e polidos. Com isso, os debates eram acirrados e produtivos.
O número de autores aumentou muito, o que é bom, porém a qualidade ficou meio que deixada de lado. Muitos publicam textos longos com o título de poetrix, por exemplo, e fica por isso mesmo. Citando, como disse, apenas um exemplo dos muitos erros que vemos por aí. Isso é péssimo!
Talvez as mudanças sejam mesmo inevitáveis quando o assunto é crescimento, porém, creio que é preciso primar pela qualidade, o máximo possível, sempre!
2- Você, como um dos idealizadores da bula poetrix, acha que a bula continua atendendo?
R - Infelizmente preciso dizer que não tenho o mérito de ter sido um dos idealizadores da Bula em si, porém me sinto co-participante dela, de outra maneira. Novas vertentes do Poetrix, tais como Palavratrix, Duplix e Triplix, que nela estão contemplados, foram criados por mim (e, no caso do Duplix, por mim e pela minha amiga Tê Soares).
Mas acredito que sim. Ela foi, e continua sendo, uma ferramenta vital, não só para os iniciantes, mas para todos nós. É, sem dúvida, um Norte para quem está iniciando na arte deste ofício. O grande pecado é que os novos poetrixtas não a leem como eu gostaria que lessem.
3- Que itens da Bula você priorizaria na criação de um poetrix?
R - A concisão. Creio que quanto menor for o texto, maior terá que ser a criatividade do autor. É um trabalho árduo, escrever pouco e dizer muito. No geral se escreve muito e se diz pouco. Ser conciso é falar o necessário com o mínimo de palavras, sem que isto prejudique a clareza e a grandiosidade do texto.
4- Dos sete saberes de Ítalo Calvino qual o que você acha mais difícil?
R - No meu entender, o que há de mais desafiador nos ensinamentos de Ítalo Calvino é o que se refere ao susto. Provavelmente esse seja o item mais enigmático: não é palpável, nem pode ser mensurado. E assim sendo, amplia as possibilidades, nos oferece leituras extras que vão além do que está grafado no texto. O susto fica escondido nas entrelinhas como quem não quer nada. Depende exclusivamente da criatividade, irreverência e ousadia do autor ao elaborar o seu poetrix.
E mais, o leitor é confrontado a cada verso. O ideal é que ele fique impactado ao final da leitura.
5- Na sua opinião, o que é necessário num bom poetrix além dos itens da bula?
R - Esta, sem dúvida, é uma pergunta difícil de responder. Para mim, a Bula é bastante abrangente, não acredito que precise de reparos ou acréscimos. Uma bula que se preze, traz todas as informações necessárias e possíveis, todavia, nunca é demais lembrar que há coisas que bula alguma poderá abranger, tais como: criatividade e sentimentos. Mas não vou fugir da questão.
Creio que será de bom tamanho acrescentar a sugestão da leitura do texto pelo autor, por diversas vezes. E que este seja lido em voz alta, para que ele possa avaliar a sonoridade e o ritmo.
Outra dica: "e se fosse assim?!"... Se fazendo essa pergunta, o autor teria uma proposta alternativa, uma segunda opção. Com esse "exercício" os novos autores teriam um outro viés, diferente de sua proposta inicial. O questionamento poderá vir de uma outra pessoa também. Vindo dele mesmo, ele teria, por si, mais de um ângulo de visão. Quem mais usou e abusou desta expressão foi o meu irmão Hércio. Porém, não são todos os autores que aceitam essa colaboração. Certa vez ouvi: "meus poetrix nascem prontos". E há que se respeitar. Cada qual do seu jeito.
6- Como você vê as variações do poetrix como duplix, triplix e palavatrix?
R - Sempre presumi que o poetrix vai muito além do que nós praticamos todo esse tempo. Com essa crença na cabeça, comecei a procurar novas vertentes para os meus escritos. Assim, certo dia, trocando mensagens com a poeta e amiga Tê Soares, nos deparamos com a possibilidade de escrevermos um poema a quatro mãos. Foram dias e dias de debates até que surgiu o primeiro duplix. Nós queríamos que os poetrixtas se juntassem em duplas, que houvesse um laço de amizade que fosse indissolúvel e consistente. O duplix nos possibilitou uma aliança literária que antes não era possível.
Em seguida, com o mesmo raciocínio, surgiu o triplix e o multiplix. Ou seja, esses poemas podem se tornar quase que infinitos. Chegamos a ter um multiplix com oito autores.
O palavratrix seguiu como uma vertente diferente. Eu queria um poema que fosse a excelência da concisão. Passei alguns meses na busca de uma palavra que pudesse ser dividida em três partes e que estas, dessem um sentido diferente ao da palavra original, ou seja, haveria um duplo sentido entre elas.
Me dediquei muito a essas variações e também me diverti muito com elas.
Sinto que valeu a pena!
E, como sempre disse: Viva a poesia!
7- Sabemos que nem todos os poetas conhecem bem o Poetrix. Quais sugestões você daria para divulgá-lo melhor?
R - No meu modo de pensar, já temos um número muito bom de autores escrevendo poetrix. Ouso dizer que já fizemos muito nesses vinte anos. Temos que dar tempo ao tempo para que ele amadureça com leveza. Nossos passos precisam ser precisos e firmes, nada de correria!
Contudo, a criação de Grêmios Literários nas grandes capitais como São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador, onde reside o maior contingente de poetrixtas, pode ser uma alternativa interessante e duradoura. Esta foi uma proposta levantada pelo Hércio Afonso. Com a qual eu concordo plenamente.
Por outro lado, o grande Goulart já propôs a fundação de uma Academia, algo que me parece ser bem mais complexo.
Acredito que devemos pensar sobre essas possibilidades para os próximos anos como algo viável e necessário. Precisamos discutir tudo isso com leveza. Porém é vital que os poetrixtas pensem, levantem discussões positivas. Para que possamos tomar decisões conjuntas em benefício do movimento como um todo.
8- Como você vê o poetrix para crianças?
R - Vejo com bons olhos e orgulho, sei o quanto essa tarefa é gratificante!
Os relatos que tenho, são belíssimos!
As crianças de hoje são mais atentas e participativas. Vejo, bem de pertinho... alunos de oito anos publicando o seu segundo livro, com direito a tarde de autógrafos. Quem sabe, se em um futuro bem próximo, não teremos livros infantis de poetrix na maioria das bibliotecas públicas deste país? Será a glória!
9- O que você acha do poetrix na sala de aula?
R - Genial, simples assim!
Sei que muitos poetrixtas professores têm se dedicado a essa missão. Sem dúvida, não existe um lugar melhor para levarmos os nossos tercetos.
Esse, provavelmente, seja um dos grandes sonhos de todos nós, um voo que tende ao (in)finito.
Pensando bem, o menino que mora em mim, pode voltar para a escola!
10- É fácil escrever um bom poetrix? Existe um poetrix perfeito?
R - Diria que é fácil escrever um péssimo poetrix. O bom poetrix requer dedicação e muito amor à poesia.
O autor, principalmente o iniciante, tem que estar focado no poetrix. Ele precisa estar com a cabeça voltada para os princípios básicos do poetrix. Caso contrário, se perde.
Existe um poetrix perfeito?! Acredito que não e nem gostaria que existisse. Se isto vier a acontecer, será a morte do poetrix.
Vejo este questionamento como algo altamente subjetivo.
O poetrix é como um camaleão, depende do olhar que o vê e o enxerga.
11- Do que você mais gosta do poetrix?
R - Gosto imensamente de sua versatilidade. Ele nos oferece um mundo novo, uma perspectiva nova, uma possibilidade de múltiplas interpretações.
Quanto mais os leio, mais me sinto poeta. Muitos poemas longos que escrevi, nasceram da ideia de um poetrix.
Às vezes eles surgem para mim, como um estalo. Logo em seguida, criam asas esvoaçantes e se tornam uma das estrofes de um soneto. Isto é gratificante.
12- Qual o encanto do poetrix?
R - Esta é uma pergunta crucial: o meu amor pelo poetrix é proporcional ao que ele representa para mim. Se hoje posso dizer que sou um escritor, devo toda a minha poesia a esses tercetos e ao grande Goulart, meu maior incentivador, amigo do peito e dos versos.
O encanto está embutido nas diversas leituras e releituras que eles nos oferecem. E na diversidade de suas vertentes, que estão por vir...
13- Que dicas você daria para os novatos em poetrix?
R - Primeiro - que leiam, tantos quanto forem possíveis, os poetrix que já foram publicados nas nossas Antologias. São bons exemplos a serem contemplados.
Segundo - quando forem escreve-los, que leiam e releiam seus poetrix, antes que ganhem vida própria.
Terceiro - não esqueçam que as críticas, por pior que sejam, são, na maioria das vezes, relevantes e apropriadas.
14- Que mulheres devem ser lembradas como grandes escritoras de poetrix?
R - Poderia citar aqui várias delas, mas cometeria injustiças imperdoáveis. Por isso, vou nomear apenas uma, não só por ser uma escritora, mas por ser aquela que sempre trabalhou com afinco em benefício do poetrix. Ora nos incentivando, ora nos convidando para as antologias, ora publicando seus textos. Aquela que um dia nos disse: "não divido, só somo". Tenho por ela admiração e respeito - Aila Magalhães.
15- Deixe um poetrix de sua autoria em homenagem as mulheres, nosso tema do mês.
R - Homenagear as mulheres é uma obrigação de todos os poetas vivos. Sinto-me um privilegiado por conviver com tantas e quantas ao meu redor. Uma convivência mais-que-perfeita.
Vamos lá, e Viva a Poesia!!!
Intimidades
seus lábios,
uma flor...
de duas pétalas