Um estudo de caso

Cheguei e já vou abrindo a porta. Parece que vocês guardaram um banquinho para mim. Obrigado! O Poetrix sempre me convidou para essas rodas, sempre falou mais alto em meus versos. É como se tivesse nascido comigo, ele me deu alguns irmãos e irmãs poetas, criaturas para as quais guardo um cantinho especial em meu coração. E digo mais, ainda existe lugar para mais de metro esperando para ser ocupado.

Hoje estou saudoso dos tempos em que discutíamos o Poetrix abertamente como uma oficina, onde haviam centenas de poetas, cada qual querendo dar sua contribuição. Era uma troca de ferramentas, não tinha Poetrix que não fosse lapidado ou até mesmo deletado. Com isso crescíamos juntos, de mãos atadas, uns puxando os outros... como os gansos. Era o Goulart gritando e nós remando rio acima.

Algumas pessoas perguntam: qual é a chave do Poetrix ou qual é o seu segredo? Isto já foi dito inúmeras vezes, mas vou repetir. Bem, para se escrever um bom Poetrix é preciso que se entenda sua alma, suas facetas, suas artimanhas e ranhuras. Não basta três versos, nem tão pouco um punhado de rimas. É necessário muito mais do que isto, é preciso que se leia suas regras, suas diferenças, suas características e até mesmo os Poetrix ditos ruins, para que se tenha um parâmetro a seguir. Enquanto isto não acontecer prevalecerá o empírico, o faz de conta, o deixa ver se cola. Algumas pessoas pegam com mais facilidade, outras vão no tranco. O fundamental é não desistir. Acredito que podemos melhorar todos os dias.

Pra não ficar só na fala, vou usar dois Poetrix que li no Recanto das Letras do poeta Reneu do Amaral Berni, publicado em 15/08/2014. Para exemplificar o que estou falando. Vejam...

Amarelos bicos tecem róseo tapete

no ipê, junto ao portão,

periquitos ruidosos

lançam flores para o chão.

Na minha interpretação a rima empobrece o poema, ela o torna previsível como as músicas sertanejas, ela nos tira a possibilidade do susto no último verso que, a meu ver, é o mais importante, mas neste caso isto não aconteceu. Outro dado legal... alguns poetrixtas preferem deixar a pontuação para o leitor. Quando isto acontece estamos deixando que ele escolha, dê a sua interpretação. Por outro lado, quando usamos a pontuação estamos dizendo para ele como leia, as vírgulas e os pontos (a pontuação deste Poetrix ficou ótima).

Se estivéssemos em uma oficina eu perguntaria para o Reneu... e se fosse assim?

no ipê, junto ao portão,

periquitos ruidosos

lançam flores para a terra seca.

Digo isto porque o ipê é uma planta característica do cerrado, uma planta que não exige muita água. Desta forma eu eliminaria a rima. Mas isto fica por conta do autor. O poema é dele. Ele acata se achar que ficou melhor. Algumas pessoas não aceitam este tipo de sugestão pois dizem que os seus poemas nascem prontos. O Poetrix nos dá essas alternativas, o que o torna interessante e participativo. Diferentemente de outras composições que não permitem essa troca de palavras.

Vejam que coisa interessante. O próprio autor percebeu que o seu poema poderia ser reduzido ainda mais, tornando o texto extremamente minimalista. Observem a Nota que ele fez.

- nota - numa versão mais enxuta, poderia ser :

Periquitos no ipê

amarelos bicos

tecem

róseo tapete.

Na verdade ele não reduziu o poema, mas sim criou um outro, com o título que ele havia dado ao poema original. Um poema mais conciso. É tão bonito quanto o primeiro. Isto vem a calhar com a ideia de oficina, de enxugamento do poema, que é uma das características mais ricas do Poetrix. Provavelmente nenhum outro tipo de poema permite tamanha ousadia.

No mais, parabéns ao amigo e poeta Reneu... e viva a Poesia!!!

Pedro Cardoso DF
Enviado por Pedro Cardoso DF em 19/08/2014
Reeditado em 21/08/2014
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