Flor de Alecrim, do meu jardim, com carinho, para Lenapena



PÉTALAS DE ALECRIM

Observando o alecrim 
Falta-me a palavra
Para elogiar poesia tão rara...



 

Era uma vez um jardim, um jardim com muitas flores, o ano todo, em todas as estações.
Era uma vez uma flor, a flor do alecrim, uma entre tantas, mas única, pois só desabrochava no mês de março.

Era uma vez um jardineiro, meigo e muito cuidadoso, que não poupava no carinho com que tratava todas as maravilhas do seu jardim, fizesse sol ou chuva, calor ou frio, para que nada faltasse às suas crias como, ternamente, lhes chamava. Todas as manhãs, ao cantar do galo, chegava antes dos primeiros raios de sol e, brilhantes ainda das gotas do orvalho, deleitava-se com a beleza das pétalas coloridas, entre o verde refrescante dos canteiros.

Tudo fluiria sem sobressaltos para além dos humores da natureza, não fora o jardineiro ter elegido, entre todas aquelas flores, igualmente belas, uma que se encolhia, tímida, a cada um de seus especiais carinhos, de seu olhar apaixonado, pois de paixão se tratava... Que tinha de tão encantador essa linda flor para merecer tanta atenção do zeloso jardineiro? Aos seus olhos, dedicado como era a todas as flores do seu jardim, aparecia única, perfeita, a flor do alecrim…

Não tardou que a inveja começasse a turvar o ambiente no jardim, entre as outras flores, sentindo-se despeitadas e invejosas dessa relação única, privilegiada. Tentaram desiludi-lo quanto ao carácter dessa flor tão vulgar que cobre vales e montes, como lhe diziam insistentemente, afinal, apenas uma pequena e vaidosa flor… Vaidosa, sim, afirmavam as outras flores em uníssono, tentando desvalorizar a eleita do coração do jardineiro.
Sem êxito, tantaram mudar de estratégia, insinuando-se como as maiores amigas da singela e incauta flor, passaram a tentar desiludi-la quanto aos sentimentos do jardineiro, insistindo, ao mesmo tempo, para que olhasse em volta e visse bem que muitos outros jardineiros a cobiçavam, quiçá bem mais amáveis e cuidadosos.

No meio de dificuldades e incertezas, é fácil que os sentimentos fraquejem e, qualquer mentira pode aparecer como verdade inquestionável. Um belo e infeliz dia, a nossa flor de alecrim cedeu, deixando que outro jardineiro, quase desconhecido, a levasse à aventura, deixando o nosso velho jardineiro triste e inconsolável. Nunca mais o jardim teve a mesma beleza e frescura...

Alguns dias depois, a flor que partira, tão feliz e esperançosa, regressou sozinha e ferida. Vinha machucada, esmagada e humilhada pelo peso da desilusão dessa infeliz aventura... E o fiel jardineiro, redobrando seus cuidados,  restituiu-lhe a frescura, a exuberância e a alegria perdidas, que, entre tantas Primaveras, espalhara no jardim com as suas coloridas pétalas. Com grande carinho e dedicação, de novo juntos, haviam de sarar as feridas abertas, bem no fundo de cada um. Então, por muitas mais Primaveras, o amor e a beleza voltariam a reinar no jardim...


 
Ana Flor do Lácio
Ana Flor do Lácio
Enviado por Ana Flor do Lácio em 22/03/2012
Reeditado em 22/03/2012
Código do texto: T3569121
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