Natal real
Haroldo P. Barboza
Digestão
Promessas alimentadas na ceia
Costumam evacuar
Na próxima Lua cheia.
Tempo curto
Ações prometidas a Noel
Desaparecem juntas
Com a tinta do papel.
Ornamentos
Sobre a toalha tudo é beleza
A parte mais pobre
Fica debaixo da mesa.
Luzes
A árvore pisca radiante
Enquanto o pedinte
É mandado adiante.
Memória
Promessas de dezembro
Em janeiro já residem
No “não me lembro”.
Histórico
Há dois mil anos
Noel escuta promessas
Feitas às pressas.
Pedido
O rico implora ao céu
Por mesa mais farta
O pobre continua ao léu.
Embalagem
Presente de nobre
Tem papel brilhante
Jornal embrulha o pobre.
Tarefas
O abastado adorna Jesus
Resta ao miserável
Carregar a cruz.
Origem
Meia rica é engordada
Com o que é sugado
Da meia esgarçada.
Melodia
O coral tem vozes de ouro
O lamento do pobre
Soa debaixo do couro.
Camuflagem
O Natal esconde a verdade
Que durante o ano
Envolve a sociedade.
Herança
Como reza a tradição
Rico efetua pedidos
Pobre entoa oração.
Cartinha
O pedido do passado
Se repete no presente
Para um futuro sonhado.