CANTICOS
CANTICOS
Atrás de mim uma sombra
que flerta comigo
pelo vão da janela.
Uma sombra branca
a dançar no varal
feito bailarina do corpo
com roupas molhadas.
Uma sombra de olhos
grandes e melosos,
que se abraça ao cabide
e sorri para mim.
II
Da janela do trem
Cobro-te amor,
Não um amor rotulado
Destes que tem por ai,
Que apenas se beijam
E vai-se embora pela manhã,
Não, destes já estou cheio e
Farto de vê-los pelas janelas do trem.
III
Não questiono sua existência,
Apenas minto sobre mim.
Aos outros, quem der mais
Por alguns gemidos a venderei.
IV
Caminho de serras,
Terra vermelha com gosto de ferro.
Bem-te-vis, araras e macacos pregos,
Que pregos sois!
Homens de mata borrões.
V
Jamais me deterei
Frente aos carros de bois
que cruzarem comigo
no passeio publico,
me olharão assim
com aqueles olhos
cheio de remelas e sonolentos
procurando sal para em mim babar.
VI
As vezes eu daqui sentado
Sinto o seu cheiro,
Que anda entre os anciões agora,
Anciões da terra.
O cheiro de sua vagina
Tão límpida e transparente,
O cheiro de seus seios
Pardos e fartos de meus beijos.
VII
Você que chega cansada
E deita a cabeça no meu colo,
Passo a mão em seus cabelos
E arranco alguns fios brancos
Então você me sorri e logo pega no sono.
VIII
Me disseram que era amante
Que era amigo,
Que era gay,
Que sem ser o amante
Meu inimigo,
Sem ser gay.
XV
Bateram no portão
Olho pelo buraco
E vejo uma mão
Suja de terra
Apenas uma mão
Sem dedos ou impresão digital.