VÔO NOTURNO (*)
Sobre o telhado, um pássaro.
É sempre feito de mistério o seu vôo.
É semente e harpa
que plana entre o céu e a terra
grandiosa saudade,talvez,
de tudo que na vida já semeou.
Infinitamente arrulhamos
por entre os telhados, os beirais
dos caminhos.
Asas fatigadas, outras vezes vigilantes,
sorvendo do tudo e do nada
nosso paraíso de instantes.
Ah, nuvens que oscilam
e que fazem pousar a noite no olhar,
ao invés das asas de um anjo
cuja forma se esvai para sempre
depois de o telhado quebrar.
Perder-se no refúgio infinito
de seu próprio vôo.
Partir... pra jamais chegar.
(*) título inspirado em Vôo Noturno, de Saint-Exupêry