VÔO NOTURNO (*)

Sobre o telhado, um pássaro.

É sempre feito de mistério o seu vôo.

É semente e harpa

que plana entre o céu e a terra

grandiosa saudade,talvez,

de tudo que na vida já semeou.

Infinitamente arrulhamos

por entre os telhados, os beirais

dos caminhos.

Asas fatigadas, outras vezes vigilantes,

sorvendo do tudo e do nada

nosso paraíso de instantes.

Ah, nuvens que oscilam

e que fazem pousar a noite no olhar,

ao invés das asas de um anjo

cuja forma se esvai para sempre

depois de o telhado quebrar.

Perder-se no refúgio infinito

de seu próprio vôo.

Partir... pra jamais chegar.

(*) título inspirado em Vôo Noturno, de Saint-Exupêry

Lúcia Constantino
Enviado por Lúcia Constantino em 04/05/2008
Reeditado em 03/06/2011
Código do texto: T975112
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