Meu mundo Perfeito
MEU mundo perfeito
Coisas boas, interessantes e curiosas,
Coisas mórbidas e intensamente vivas
Estúpidas, intrigantes, irritantes
Embaraçosas, toscas e fúteis.
Todas elas passam diante dos meus olhos
Entre o nascer e o triste pôr-do-sol.
Passam dos olhos sem que as perceba...
Poupo minhas energias.
Tento fechar as janelas da minha mente
Para as coisas do mundo
Como uma criança chata e contrariada que não dá a atenção
Já que este mundo ingrato
Nunca prestou atenção em minha pobre criança
Tendo os sentimentos mais ocultos ridicularizados,
De todas as formas imagináveis
Não tendo nada a que recorrer, escrevendo poemas fracos e de mal-gosto...
Meus olhos cansados de ver nada acontecendo
E se repetindo rotineiramente,
Dramaticamente, drasticamente;
Nascer. Viver. Sonhar. E morrer disso.
Morrer para o concreto.
Viver para o sonho,
Onde tudo é perfeito
E eu tenho o controle da situação
Onde não existem estereótipos nem preconceitos
E a realidade imaginária e ilusória
É simples e clara,
Como um dia perfeito de primavera,
Numa atmosfera perfeita.
Poder perceber a perfeição e ser irretocavelmente feliz.
Correr muito.
Correr até as minhas pernas não agüentarem mais
Parar para respirar
E deixar o ar entrar leve e quente pelos meus pulmões
E perceber que estou viva.
E ser feliz por isso.
Descer aquela montanha até o rio,
Mergulhar e passar horas lá em baixo,
Sem me preocupar com o ar.
Ver os peixes, as árvores, as flores e os outros animais...
Ver o sol no seu leito de morte e
Acordar bem cedo para vê-lo nascer novamente...
Grandioso, majestoso, quente e
Cheio de vida própria
Sentir os raios encobrirem meu corpo
Aquecendo meus dedos congelados pela madrugada
Olhar para o horizonte aberto e radiante
Como um sorriso,
E sorrir talvez,
Pois ninguém poderia ser mais feliz do que eu, naquela manhã.
E depois de tudo isso,
Dançar a música da natureza,
Sem os problemas dos homens
Rodopiar, pular e
Cair extasiada,
E sentir os deuses do tempo cochichando aos meus ouvidos
Numa língua suave,
Como as mais belas melodias.
Desmaiar entontecida de sono
Acordar cansada, suja e suada
Em uma cama medíocre
De um quarto pálido e inóspito
Olhar-me no espelho e ter a triste convicção
De que tudo não passou de um sonho
E mesmo assim,
Perceber nas roupas uma folhagem como lembrança
Do mais lindo sonho proporcionado pela alma
Tomar um choque em saber que o real continua
E que, continuarão passando
Coisas boas, interessantes e curiosas,
Coisas mórbidas e intensamente vivas
Estúpidas, intrigantes, irritantes
Embaraçosas, toscas e fúteis.
Todas elas passam diante dos meus olhos
Entre o nascer e o triste pôr-do-sol,
Que nunca perceberei,
Pois o mundo real é cruel,
E o corpo é burro,
O meu corpo é burro...
Numa melancólica contradição com a alma
Que é linda e inteligente
E que eu prefiro que seja assim...
Para que eu possa adormecer
Sonhando encontrar meu amigo sol novamente,
Num mundo perfeito.
No meu mundo perfeito.
No meu mundo dos sonhos...
(07/12/2001)