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Me veio à memória aquele nome
Que tinha lido no Apocalipse
Já não agüentava mais aquele eclipse
E minha alma que sentia fome.

Sim, mas não fome de pão nem de matéria
Mas sim de luz, qual sol do meio dia,
A fome era amor - sabedoria -
Não podridão - palabra deletéria.

Desanimado, pus-me a caminhar
Em direção eu ia àquela gruta;
Foi quando eu vi uma serpente astuta
Dizendo-ma assim: "Vou te guiar...

Confie em mim; não tenha medo não..."
Eu parecia estar enfeitiçado,
Eu disse à ela: " És tu o tal Pecado?"
"Eu?  Sou a grande mãe: a Sedução..."

A cobra tinha asas transparentes -
As cores do arco-íris - refletia
Causando a mente uma paralisia
Ao corpo cãimbra e os membros mais dormentes

"É tarde o arrependimento aqui -
A paz, a esperança e o perdão,
Aqui são utopias - ilusão..."
Me disse a serpente; e eu repeli...

Corri para a caverna logo à frente
Espíritos imundos qual anuros
Só m'espreitavam sobre uns grandes muros
Havia um portão de ossos de gente...

E gárgulas guardavam-no ferozes
E homúnculos disforme sobre eles,
Eram os guardiões daqueles reles
Lugar de agonia; onde as vozes

Gemiam por demais - incontinente;
"Parado aí" -  falou-me um dos imundos
Espíritos anuros -, "qual dos mundos
Você pensa que vai verme demente!?"

"Quem vem pra cá não volta nunca mais;
Você se desviou do bom caminho
Pensou que fosse fácil a dor, o espinho
Agora é tarde pra voltar atrás..."

"Deixa eu passar!" falei-lhe. Ele riu
"Primeiro vamos nos apresentar
Meu nome é Medo e o outro Inventar
E Dúvida - o que lhe possuiu..."

"Os gárgulas: Orgulho e Ambição
Pequenas criatura são o Sonho
Do 'Eu quero' 'Exijo' 'Eu proponho'
As minha condições - minha razão..."

Ninguém consegue entrar naquelas portas,
Qu'estão além do muros - dos portões
Há lutas, há batalha, há visões -
E tudo mais que tornam almas mortas..."

Entrei determinado em vencer
As provações que tinha que passar
Mas a primeira porta - ao entrar -
Apareceu-me então um outro ser..

Com asas de morcegos, pés de cabra
E disse-me assim "A cada escada
Que tu irás descer é uma entrada
Pro hades, pro inferno... Quer qu'eu abra?"

Eu nem pestanejei foi logo abrindo
Quantas loucuras vi e insanidades,
Queria ir embora lá dos Hades
Correr atrás do outro mundo lindo...

(continua...)

Gonçalves Reis
Enviado por Gonçalves Reis em 16/03/2008
Código do texto: T903971
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