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Já não havia flores aromáticas –

Depois que percebi que tudo aquilo –,

Que havia visto antes e não vivi-lo –,

Com atenção olhando quão apáticas

 

A grama era de um lodo verde-escuro –

Um musgo, um veludo parecia –

A cor uma esmeralda refulgia –

Só ilusão comi; ficando impuro...

 

A água que tomei era uma losna

Escorreguei então naquele barro,

Um riso de sarcasmo e bizarro,

Ouvi quando cai naquela gosma...

 

Mas a estrada larga era bonita

Não tinha – a princípio – um problema

Ouvi frases mais belas que um poema

Depois que percebi – minha alma aflita...

 

Tentei então limpar-me da sujeira

Foi rosto, braço, tronco, perna-a-perna,

Uma limpeza básica – externa –,

A podridão da alma estava inteira...

 

E pus-me a caminha de novo então,

Um banho novamente quis tomar

Mas ia caminhando sem parar

Até avistei um ribeirão...

 

O céu em fogo estava – era crepúsculo

Quando cheguei lá perto, um mergulho

Eu dei, mas de repente que engulho

Me veio incontinenti em cada músculo...

 

Um cheiro forte, um cheiro de carniça

Me sufocou, tomou o meu olfato

Depois que vi, fiquei sem aparato

De fezes era o rio, foi uma liça...

 

Pra me livrar daquele grande nojo

Eu avistei então uma caverna

E caminhei pra lá na noite erma

Dizendo assim: Fui tolo, um despojo.

 

E caminhando eu vi outra floresta

Com árvores torcidas – mais sombrias

Estavam carregadas com harpias;

Uma grasnou, bicando minha testa...

 

Aquele olhar malévolo entrava

No fundo de meu ser tirava tudo

Ela me revelava, fiquei mudo,

Os meu pecados ela enumerava...

 

Mentira era seu nome; era rainha

Daquela mata cheia de demônios.

As sensações mexeu com meus hormônios

Razão, insanidade foi-se a linha...

 

Pensei estar num grande pesadelo

Havia lá quirópteros vampiros

Mandíbulas enormes, seus suspiros –,

Trovões pareciam – nem vou descrevê-lo...

 

Uma mulher-serpente vi também

Seu ser era perfeito – imaculado

Ela falou-me assim: “Sou o Pecado

Olhando-me demais, levo-te além...

 

Para outra dama bela e perigosa

A minha irmã gêmea – o meu suporte

Ela não larga mais – Seu nome? – Morte

Ela é fatal; e, nada tem de airosa...”

 

Saí correndo então em disparada

Mas tropecei numa daquelas matas

No chão havia lesmas e baratas

Que noite! Que maldita madrugada...

 

(continua...)

 

Gonçalves Reis
Enviado por Gonçalves Reis em 15/02/2008
Código do texto: T861277
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