O Juízo dos Cegos

Não folheiam, mas sentenciam,

como quem encara um tomo fechado

e crê decifrar-lhe os mistérios

pelo traço do tempo na capa.

Murmuram que és raso enigma,

que teus passos se dissolvem no vento,

mas ignoram que teu caminho

se estende onde os pés daqueles que nem querem ousaram tocar.

O silêncio, esse arauto impassível,

sempre sussurra o que os tímpanos tíbios temem,

pois a grandeza, em seu estado incipiente,

é um espelho que fere os que não suportam o reflexo de si.

Potencial é trovão contido no horizonte,

um aviso que precede o dilúvio,

e aqueles que habitam sob telhados frágeis

preferem desacreditar o vento a fortalecer seus muros.

Humildade exige menos que compreender,

dissipar dói menos que buscar,

pois enxergar além da névoa

exige olhos que saibam ver.

Mas diga-me: quantos já viram a alvorada de um relâmpago

e compreenderam que estavam diante da luz,

e não apenas do eco que a sucede?

Os cegos ouvem e se espantam,

os sábios veem e se encantam.

A luz não suplica por meras críticas.

Rasga as trevas sem pedir permissão.

Ela rasga o véu das trevas impassível,

e somente aqueles que ousam encará-la

são dignos de testemunhá-la.

Abraham Cezar
Enviado por Abraham Cezar em 19/03/2025
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