Labirintos Invisíveis

Há um ruído que nunca dorme,

um sussurro entre o vão do silêncio.

Não é voz, não é grito,

mas um peso que molda o ar.

Invisível, mas presente,

como sombras que dançam

quando ninguém acende a luz.

Há labirintos sem saída

pintados no verso dos olhos,

onde passos ecoam

mas nunca encontram chão.

Um relógio de ponteiros partidos

marca horas que não passam,

em dias que não chegam.

Alguns chamam de tempestade,

mas não há trovões aqui.

Só o peso de nuvens imóveis,

grudadas no céu da alma,

feitas de tudo o que foi dito

e de tudo o que ficou preso na garganta.

E quando tentas fugir,

as portas sussurram segredos

que tu já conheces de cor.

Um ciclo, um giro,

uma dança sem música,

onde o cansaço

é o único refrão.

Mas quem vê de fora

não lê as entrelinhas.

Chamam-te de forte,

como se ser aço não enferrujasse.

Como se o brilho na voz

não fosse só o reflexo de um disfarce.

E ainda assim,

há dias em que sobrevives.

Não por heroísmo,

mas porque há algo de teimoso

no pulsar de um coração que insiste

em desafiar a lógica do vazio.

Affonso Santos
Enviado por Affonso Santos em 17/12/2024
Código do texto: T8221293
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