O CALVÁRIO DO POETA
"PARAFRASEANDO FERNANDO PESSOA"
Junto à Brasileira do Chiado, no
Septuagésimo aniversário da sua morte !
*
O poeta tem seu nome
nas sementes geradas
no ventre do destino
e a sua revelação
ocorre no devir do tempo
que lhe compete.
A própria consistência
vem no fluir das horas
que lhe são delimitadas
pela sua poesia.
E esta não é senão
a resistência imanente
da gestação fora de si
pelo alienar constante
da consciência alheia.
É aqui que nasce o drama,
o drama de assumir,
no fundo, o que se é.
O poeta para se revelar
tem de gerir a sua identidade,
tem de vincar o seu eu,
gerir o ser do não-ser
e resistir sendo.
Neste profundo contraditar
está toda a beleza
da arte poética,
pela qual se manifesta
a verdade do seu mundo.
Andar nele e com ele
é carregar a força mítica
que traz no seu bojo
todas as sensações
que conduzem fatalmente
à sua própria morte.
Porque o poeta tem de morrer
para que fique neste acto
toda a sublimidade
da poesia que sonhou !
Frassino Machado
In ODISSEIA DA ALMA