Vidas que moraram em mim

Já fui um tanto de coisa

Que nem sei contar,

Mas já tive Jeito de bicho,

De vento e de árvore

Perdida no quintal.

Em algum tempo que não cabe em data

Eu carregava poeira de estrada, era sapo

Esperando chuva. Formiga carregando

O mundo e folha que cai sem porquê.

Minhas vidas passadas moram na sombra

Do meu pé e no bico de um pássaro

Que visita o tempo – todas as manhãs

E me conta segredos em assobio.

Carrego dentro do olho

Um jeito de quem já foi rio,

De quem já foi pedra redonda,

Espalhada numa estrada que não acaba.

E, quando sonho, são essas vidas que me voltam:

Chegam de leve, fazem pouso e me contam o que fui

E que tudo que sou agora é tão ínfimo que cabe

No vazio do silêncio de outrora.

Paulo Cesar Coelho
Enviado por Paulo Cesar Coelho em 11/11/2024
Reeditado em 12/11/2024
Código do texto: T8194611
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