Vidas que moraram em mim
Já fui um tanto de coisa
Que nem sei contar,
Mas já tive Jeito de bicho,
De vento e de árvore
Perdida no quintal.
Em algum tempo que não cabe em data
Eu carregava poeira de estrada, era sapo
Esperando chuva. Formiga carregando
O mundo e folha que cai sem porquê.
Minhas vidas passadas moram na sombra
Do meu pé e no bico de um pássaro
Que visita o tempo – todas as manhãs
E me conta segredos em assobio.
Carrego dentro do olho
Um jeito de quem já foi rio,
De quem já foi pedra redonda,
Espalhada numa estrada que não acaba.
E, quando sonho, são essas vidas que me voltam:
Chegam de leve, fazem pouso e me contam o que fui
E que tudo que sou agora é tão ínfimo que cabe
No vazio do silêncio de outrora.