Escrevo para quem não me lê

canto para quem é surdo diante de mim 

me mostro para quem não me vê. 

Mas quando rasgo as páginas que escrevi, 
sou impiedosa. 
Louca quando então eu grito. 
Desiquilibrada se me escondo. 

De nada adianta o grito aflito 
as palavras em verso e prosa 
o corpo milimétricamente redondo 
se nada meu encaixa mais no seu ser. 

Solução é escrever ao vão, 

falar com estranho 

e me mostrar para o mundo. 

Surpresa se o sim suplantar o não 
se meu verbo for conhecimento ganho 
e minha presença virar 
a eternidade de um segundo.