Aurora do entardecer
A aurora do entardecer
Visível somente a mim,
Remanescente da raça de ouro,
Contemplando-a não vejo somente corpos:
Observo almas, essências.
De justos e condenados
Fadados a punição eterna por desprezarem a eternidade,
Respiram, porém não vivem;
Olham, porém não veem;
Dispersos, cegos pela própria carne,
Escravos ignóbeis da liberdade.
Parvos pensamentos seculares
Nascidos no mundo da pirâmide invertida,
Onde o ferro é o mais abundante dos metais,
Nervos de aço corroídos pelo tempo,
Derretem ao ecoar da consciência.
Há ainda quem tente ficar de pé,
Resistir ante as ruínas,
Sempre feridos, abatidos,
Vagam para além do além,
Calejados de corpo e espírito.
Expanda-se adiante, fugaz aurora...
Dilatai a pupila dessas faces sem vida,
Despojados de si banham-se no ouro,
Trêmula aurora, resplandeça.