A outra margem
Tu só és o sinal do fim dos tempos…
Tu não sabes, mas a tua maldade
Também é esperança…
A minha vergonha e o meu desamor
Expressam a vontade de estar parado
Em algum lugar solitário, enquanto
Espero a outra margem…
E embora eu, decepcionado, certamente
Não caiba em qualquer religião,
Construo os meus ídolos pelo avesso…
Me reconheço no espelho de águas
Turvas e depois me desconheço…
Me desmorono vez e outra
Por não saber no que confiar,
Mas, não te esqueças
Que sou um ser humano frágil
Em busca de conforto…
Tenho sim opiniões fortes
Que não consigo expressar…
Minha mente é mais como o ninho
De passarinhos em dor de recém-nascimento,
Quando não é apenas o turbilhonar
Inconsciente de uma despedida à distância…
Por isso, este meu desejo urgente
De guardar tudo, largar tudo e ir embora,
E facear um mundo que eu não sei
Se é doce ou se é amargo,
Se é claro ou se é denso,
Se é profundo ou se é sutil…