SÉCULO
A densa névoa cobre o pântano...
Emergem lírios ao lado das muralhas.
Manhã escondida
dentro de um século vermelho...
A grinalda da aurora não surgiu.
Não há dimensão definida.
Há um Tempo.
Há um Vago que se agiganta em anéis.
O tempo da vindima e dos trovões.
No mar, o ângelus das últimas baleias...
Emergem lírios.
Sob o altar das ogivas
Sob as forjas dos tiranossauros
Sob o contínuo velar dos arcanjos
Sob o insistente e esperançoso velar dos
arcanjos...
emergem lírios...
Lá embaixo eu vejo a massa humana.
A grande marcha! A lenta e grossa fila que
serpenteia entre as pilastras caídas.
Entre os monólitos dos triunfos tombados.
Faces brancas cervizes curvadas
Velhos rotos velhas amarelas
...E meninos. (Lírios...)
As grávidas se rebuscam nas sombras
das enormes muralhas erigidas
à deusa História – agora agonizando.
Não mais existem as torres do século.
(Escombros das megametrópoles...)
Os Viajantes estelares já partiram.
Nas campânulas, as sementes
do sal, do trigo, dos lírios...
A vindima finda e o sacudir
da Oliveira. Rabiscos! Poucos rabiscos... Sementes benditas.
(.......)
As cruzes... O bosque sagrado...
As crianças que cantam a lira dos Anjos azuis
que a professora ensinou no ano passado.
(Antes dos cogumelos...)
São crianças claras.
Esplendidamente claras.
Estranhamente claras...
(.......)
Por que vejo daqui, deste tempo presente, um século
entre nebulosas? Os homens não ouviram
e os Cajados subiram com as Estrelas.
E esses vales? E esses lagos?
Eis ali uma cordilheira.
A névoa é cinza.
Azul e cinza. Um grande mar...
Nos píncaros nascem luzes.
As sementes dos lírios que ficaram
germinam férteis. Caladas.
Misturam-se nas filas. Crianças.
– Porções da Árvore da Vida...
Sidnei Garcia Vilches. (Setembro de 2002)