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O Purgatório, mas que cousa estranha!
Ali bem escondido na montanha –
Que fica recoberta no sereno,
E tarde fica um algo obsceno,
Só para provocar a Humanidade,
Que vive na fulgaz Felicidade,
Na forte e frouxa e falsa Fantasia,
E a carne – o desejo – se extasia,
Mais rápido possível nós saímos.
Lamentos como injúrias, sim, ouvimos;
Mas longe já se via a Gran Cidade –
Mais linda que qualquer preciosidade;
À frente – à nossa frente – tinha um rio –
Profundo, claro, forte, e viril –
Oh! Temos que sem medo, atravessar,
Pedimos para Deus, então, guiar;
Apareceu pra nós como uma bomba,
Uma brilhante e branca e bela pomba;
Foi como aquele povo que partiram
Fugiram pro deserto – do Egito
Achando tudo aquilo esquisito
Oh que Jornada! Grande rio Jordão!
Oh quanta angústia! Quanta provação1
Mas nós permanecemos bem unidos,
E nunca mais nos demos por vencidos;
Ah caminhamos muito – com coragem
O sol, a chuva, a névoa na viagem,
Não foram obstáculos pra nós...
Pois nunca nos sentimos mesmo a sós.
Mas avistamos, mais um pouco à frente,
Um muro nunca visto – diferente –,
Bem alto – quase não se via às bordas
E, nele, estavam várias, várias cordas,
O muro já era a prova derradeira
As cordas lisas... – só pra dar canseira –,
Cortavam nossas mãos profundamente,
As lágrimas na face, o sangue quente,
Deixava-nos contritos co’alm’arder
Confusos – sem sabemos que fazer
Então não desistimos de subir
E nem nos preocupamos co’ porvir
Chegamos lá na borda - não era farsa
No centro da cidade estava a Sarça –
Que nunca se apagava ou consumia
Nos dando muita – muita alegria...
Chegamos finalmente! – enfim chegamos!
A caminhada nós já terminamos
Já podem nos chamar sobreviventes
Chegamos! – sim! – Chegamos finalmente!
20, junho, 1997 – 23, março, 1998