BALADA DO ABSURDO
Duvida, pois não há terra à vista onde exista a perfeição
debalde, se é certo que, na vida, querer o que não temos
vem da pulsão da entranha, da estranha humana condição
perdida nessa selva de pedra onde prendemos-nos, em nós,
atrapando-nos em teias sublimes na busca cega da razão
Muda, pois só o aprendizado gera mutação, eis a única certeza
do universo a natureza é, senão a luta, essa silenciosa dança
do fogo e do gelo que molda sua essência e dá forma à beleza
Aceita, mas antes, contudo, aprenda o valor e quando dizer não
que a escolha é antes limitada por si e, em ti, não há mais nada
a temer, porque cada devir é próprio, esteja ciente da sua opção
para que no fim possa, por fim, sorrir ante a derradeira badalada
Convida, que o sentido é entrada, não saída, está no cerne da vida
o qual se sente e descobre talvez até melhor em meio à solidão
assim se vê que só é possível vive-lo plenamente em comunhão
e em tempo, desde que se faça a tempo, frente ao meio absurdo
perceba que o salto é a beira entre o abismo e a porta da prisão
Segue, qual quiseres desses poucos, porém, loucos caminhos
de uma mesma direção, olha, suspeito e sem medo, ao leito
desse rio aéreo em cujas águas turvas jaz o espelho da ilusão
Perdoa, mesmo, mas o direcione sempre a ti e teu erro primeiro
de bom grado aceite o preço, que o perdão só é verdadeiro
quando está disposto ao recomeço, traz à sombra um clarão
e visa inexoravelmente evoluir por meio da transvaloração