O LEOPARDO (canto primeiro)

O LEOPARDO

(CANTO PRIMEIRO)

...um leopardo vigia

contra as suas cidades. (Jer. 5:6)

Serei, pois, para eles como leão;

como leopardo espiarei no caminho. (Os. 13:7)

As cortinas se abrem!...

O luar alvadio desce alumbroso sobre as cidades...

– Sobre os palcos dos teatros de Abadom!

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Nessas horas de sombras e de encantos

um dragão devora almas nas Sinagogas de Babel.

Nesse mar notívago uma ciranda move um grande barco

[conduzindo o mundo.

...E nas praças da Grande Província vejo as

[pegadas de um velho felino...

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(São muitos os monarcas desse Reino.)

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Um Leopardo campeia nossas noites...

Chovem estrelas nos fachos dos faróis.

Esquivo, sonda frio as frias ruas...

Calam-se vozes ao mando de cartéis.

Calam-se vozes ao mando de cartéis.

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Há uma apatia dominante nas eiras do trigo

Há uma vereda esquecida nas correntes das Águas

Há um Livro Sagrado maculado por mãos profanas

Há cavernas onde catacegos prostituem caminhos

Há adultérios das Hidras nos pináculos dos templos

Há risos escondidos nos camarins dos loucos

Há uma Voz... Uma solitária e antiga Voz...

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(São muitos os monarcas desse Reino.)

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Um vigilante passeia no planeta...

Traz a trombeta e o seu selo nos anéis.

O seu rugido é desafio em voz troante

Que atravessa o futuro em seus portais.

Às ervas do mal, o cálice da ira!

E do Norte vêm cavalos em tropéis!...

E do Norte vêm cavalos em tropéis!...

Nesse prelúdio de certezas eternas, um velho

[ouve a voz do céu

Nesse fumegar de névoas urbanas, a voz tempestuosa

[de um trovão distante

Nesse voar de pássaros noturnos,

[uma testemunha conta o tempo

Nessa orquestra de preces e silêncios,

[o canto das tribos de Yahqov...

Há um vale enorme entre a História e a memória do homem

Há rituais e uivos de lobos sob sinuosas macieiras

Há uma cadeia-serpente que prende tantos pés

Há um poderoso olho que tudo vê

Há uma Lanterna que insiste triste entre as trevas mornas

Há um Tesouro escondido em um deserto

Há uma Voz... Uma solitária e antiga Voz...

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(São muitos os monarcas desse Reino...)

(São muitos os rios que dividem nossas Águas...)

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Raios do Nascer!... Píncaros luzentes!

Eia, o Sol! Eia, a Aurora! Eia, o Monte das Estrelas!

O Leopardo vem... Superou a noite. Soberano, vem...

[Já respira a brisa branda

[e desce passo certo passo lento

[da montanha.

...E se encobre rebuçado em minha sombra

E pardo e pando e quedo

Sossega... Aquieta... Retorna.

E dorme...dorme...dorme em meu seio.

...E eu desperto!

Galileu cansado,

poeta profeta

no Sol da manhã.

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Sidnei Garcia Vilches

(12 de Junho de 2001)

Sidnei Garcia Vilches
Enviado por Sidnei Garcia Vilches em 29/06/2024
Código do texto: T8095994
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