VAZIOS

JB Xavier

 

Série Poemas Para Mim Mesmo

 

Ó deidades tonitruantes do infinito

Por que congelam assim minh’alma e meu grito

Que se debatem, prisioneiras, como quem anseia

A liberdade de abrir a própria veia

No inquietante universo das loucuras

Em que, prisioneiro de mim, me agito,

Encantando-me com o canto da sereia

Que me leva ao paraíso de impensadas torturas?

 

Sintam em si também vós, deuses poderosos,

Os incandescentes gestos, os restos andrajosos

De inverossímeis e quiméricas intenções,

Desaguando em irreversíveis e grandiosas paixões

Com as quais desalinho minha rota no universo,

Com as quais perfilo-me entre pretensos corajosos,

Desfrutando também eu dessas visões

Com as quais desfaço-me, reconstruo-me e me disperso...

 

Ó divindades, olhem por um instante para além do entendimento

E vós, que sois capazes de conter a eternidade num momento

Sintam, como eu, liquefazerem-se as certezas e as harmonias

Nas dissonantes partituras das noite e dos dias

Entre os quais oscila o pêndulo de minha existência...

Sintam também vós o prazer do ferimento

Que com sua intensa dor enche de alegria

O vazio silencioso e triste de uma ausência...

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JB Xavier
Enviado por JB Xavier em 16/06/2024
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