Dimensões.

Nós sabemos a vida

Não sabendo-lhe a forma adequada

Isto dito ao vento

No momento, existo!

Posto isso, pouco a sei, além de nada

Morte, as tive algumas

Enquanto a vida se amontoa ao vento

Por acaso, à esmo, à toa

Lacuna entre duas ausências

A vida é uma duna

Uma efêmera presença

Que passa despercebida

Até por alguns dos presentes

Uma página já lida

E também já virada

A morte mais estranha

Que se pode ver vivida

Passou tão depressa

Quem a leu, na sanha de virá-la

nem se lembra de nada

Passou dessa para a estante

Num canto esquecido da sala

Na casa da eternidade

Se confessa arrependida

Pelas coisas que não fez

Se percorre uma vez

Removendo o pó da estrada

Pó de existências

Passageiras como nós

Fugazes e sós

Instáveis, incríveis

Existências perecíveis

Voou como instante

O pião na fieira

A fogueira, a esperança

O choro do filho, a vaidade

A verdade, a meia verdade

O barulho do cristal quebrando

O orgulho ferido, a ira propensa

A pequena diferença

Entre o sempre

e o de vez em quando

A esperança perdida

A mesa posta

Pra quem gosta de comida em fogo brando

Morte, as tive muitas

Madrugada, olhar perdido

Coisas tão distantes

Vivendo apenas uma vida

Não dá tempo de estar juntas

Se o poeta não juntá-la em versos

Nalgum canto empoeirado

Lá na sala do infinito

Assim, ao menos por um mero instante

Se ficaria bonito, nunca saberemos

Porque tudo tem três lados

Um peão num barbante.

Viveu para o mundo

Algo assemelhado

em ao menos uma das dimensões

Morreu para a vida

Por breve descuido.

Edson Ricardo Paiva.