AURORA
Todos os meus espaços
estão preenchidos
O vento cessou
a chuva se foi
e ficará assim
por um longo tempo
Numa profunda
inspiração
como se não
houvesse o exterior
Nada há
fora do meu ser
Não precisará
amanhecer
para ser dia
O futuro
que me fugia
das mãos
está todo aqui
diante dos meus olhos
Todas as vidas
Todas as partidas
Todas as chegadas
Todas as portas fechadas
se abriram
Todos os lugares
e olhares se uniram
formando um imenso
caleidoscópio
Como um céu
em movimento
dentro de mim
Agora
há mãos acolhedoras
em meio a muita água
Fez-se luz e abrigo onde
não havia nada
além de fome e dor
Da terra arrasada
vi surgir
a primeira semente
do novo mundo
Renascida
a cósmica semente
do amor
e da vida ...
Claudio Lima
Nota: estes versos são frutos da
experiência de ver, observar e sentir
a obra: Mar Cresciente, do artista:
El Anatsui, exposta no Museu Gugenheim
na cidade de Bilbao – Espanha
Foto / Maio 2024
EL ANATSUI ( 1944 – Anyaco – Gana)
É um escultor ganense ativo na maior
parte de sua vida na Nigéria.
Os materiais preferidos de Anatsui são
a argila e a madeira para criar objetos
baseados em crenças e temas das tradições
ganenses.
Mais recentemente tem voltado sua atenção
para a criação de instalações artísticas.
Algumas de suas obras lembram tecidos
feitos com teares Kente.
Anatsui expôs suas obras nos mais
importantes museus do mundo.
Sobre a obra Mar creciente
Ao longo de seis décadas. El Anatsui tem refinado uma linguagem pictórica que transcende as fronteiras entre cultura e técnica. Em 1998 o artista começou a realizar esculturas de metal com alças de tampas de licor descartados. O material tem uma importância conceitual, pois o álcool foi um dos produtos de consumo que os europeus transportaram para a África para entregá-lo em troca de escravos. Assim o material imprime à obra um simbolismo histórico que, como ocorre em grande parte da obra de Anatsui, é tão poderoso como sutil.
Na hora de criar essas esculturas metálicas, Anatsui contou com uma equipe de ajudantes que se empenharam na trabalhosa tarefa de aplainar, retorcer, prensar e logo entrelaçar com arame de cobre os elementos de alumínio. Para realizar Mar creciente, o artista empregou pessoas de toda Nsukka, na Nigéria, que entrelaçaram as cápsulas das tampas de licores de licor formando parte de um processo coletivo que durou cerca de um ano. Os três grandes painéis resultantes se uniram para formar uma única e ampla superfície na qual a luz se reflete em cascata.
Mar creciente é uma das últimas peças do artista e uma das de maior tamanho. A franja prateada reluzente da parte superior da obra evoca um céu interrompido por ondas de um branco mate que praticamente cobrem as escassas marcas de cor da parte inferior, que sugerem um horizonte urbano. A serena harmonia visual contrasta com o título. Mar creciente, nos lembra ou talvez nos alerte a respeito de que a natureza e as civilizações podem ser modificadas em um instante. A grande escala da obra é, portanto, uma metáfora sobre a enormidade das mudanças climáticas.
Texto de apresentação da obra: Museu Gugenhein - Bilbao - Espanha