A queda para seguir o caminho, descendo aos infernos para cumprir missão
Me deparei com um sentimento antigo,
vi em mim mesmo o rosto de um inimigo.
A sombra que cobre o meu pescoço,
me dá náuseas ao me deixar tão inseguro e nervoso.
A sombra ri de mim desejando o meu grito,
querendo deixar-me aflito, perturbado e incompreensível.
Mas algo dentro de mim sabe o que é sorrir,
a leveza mágica do que nos faz existir,
brilhando como luz e sabendo reconhecer o que é a treva.
Estou diante da luz, e o meu eu é o que causa sombras,
é o que existe no presente momento,
na eternidade dos sentimentos e na efemeridade do que se sente.
Paro em pé diante do desconhecido,
Tão claro é o dia perto do breu ao infinito.
Sinto aos meus pés a manifestação de tudo o que mantive escondido.
Vindo como um peso ou como um tiro certeiro,
derrubando sobre o chão a culpa do pesado coração.
E veio tão forte, queimando de forma tão precisa.
Chorei pelas entranhas dos ossos,
sangrei rios que correm,
gritei aos montes e aos mais altos,
vendo cada parte minha desaparecer.
Eu estava lá vendo a morte proceder,
sorri para mim mesmo, pois sabia pelo que morrer,
aprendi vivendo tudo o que tinha que acontecer.
Fui puxado para um lado,
falaram comigo e me deram um recado.
“SAIA AGORA A CONFORTAR TUDO O QUE A MÁGOA DO CORAÇÃO PODE CAUSAR.”
Entendi a mensagem,
fui enviado para consolar quem magoou-se o coração ao ver a morte chegar.
Mas tão rápido, um buracão se abriu, eu caí tão ligeiro dentro das profundezas que há.
Algo, similar a uma mão, me vem trazendo outra sensação. Estou sendo levado, consciente para onde estou indo. Me aplicam instruções e uma chave é entregue em minhas mãos. Tenho um corpo quase humano, mas tão leve que mal o sinto. Estou descendo aos umbrais e energias densas me cercam. Fico compadecido por todos que vejo... Dançam no limo envoltos por um forte cheiro, uns sangram pelos olhos, outros riem dos demais e de si mesmos...
Por quanto tempo tudo isso irá durar? Mesmo sendo tudo impermanente e circunstancial, a crueldade de uns e a culpa de outros se sobressaem. Necessito entregar a chave gravada em minhas mãos. No meio e entre tantos que sofrem, que gozam em histeria e pura declinação dos sentidos. Vou descendo aos infernos consciente de tudo que trago comigo.