PARTE III – A MÃE ERRADA
Continuou caminhando… a essa altura não deveria sentir fome e sede? Por que não sentiu? Nilson sabia que estava vivo… isso era uma certeza. Talvez a única. Podia estar até mais vivo que os outros. Talvez se alimentasse de coisas diferentes, como sol e vento. Viu ali caído na areia… perto de um pequeno arbusto, um coco seco. E um pedaço do que, talvez, tenha sido um coqueiro… há muitos anos atrás. Desesperadamente correu em direção aquele toco de madeira com o coco e caiu sobre ele em prantos.
Mãe, mãe…
eu sei que agora dói,
eu sei que está com medo
eu sei que você nunca
pensou, direito…
Em:
Pra onde o vovô
foi…?
pra onde a vovó
foi…?
Pra onde se foram
quando a hora chegou.
Quando fechar os olhos
e a dor passar, faça uma
oração a Deus…
Peça pra que ele mande
alguém que lhe mostre
algum caminho.
E acredite que você
fez TUDO o que pôde!
E que todo mundo
sabe que você foi a
melhor, dentro do que
lhe foi possível.
Mãe, onde o vovô
foi…
Mãe, onde a vovó
foi…
É pra onde
agora você vai.
Eu estou segurando
sua mão, você sente?
… você SENTE?!
Pode fechar os olhos
você não está sozinha
e nunca estará, mãe eu
prometo que não estará.
Nilson segurava um galho enquanto mantinha o rosto molhado de lágrimas no coco marrom, seco e torrado pelo tempo e pelo sol. Ele acariciava o coco… E chorou por muito tempo… muitas horas… Até que repentinamente olhou aquilo tudo e viu que eram apenas “restos de praia”. E que ele continuava sozinho, naquele lugar onde o ônibus o esqueceu. E que parecia não haver alma viva. Se levantou… Com um olhar que indicava algum embaraço e um pouco de raiva. (…) Teve oportunidade de dizer tudo aquilo pra ela, uma vez… E nada disse. Teve oportunidade de dizer tudo aquilo pra ela, outra vez… E disse tudo para a Mãe Errada.
[Continua]