Há uma poesia cega na esquina.
Uma rima solta como se fosse um tiro.
Um lirismo embriagador
A nos iludir e conduzir por ruas reticentes.
Há uma poesia muda na esquina.
Privada de fonética.
Mas, não de semântica.
Escrita nas linhas dos olhares.
Esticada pelo corpo.
Que em redenção se esquiva.
Muitos infinitos disputam o horizonte.
As nuvens tramam.
As estrelas cochicham.
E a lua solitária, brilha e guia os navegantes.
Há uma poesia tetraplégica.
Não se move.
Rainha da inércia e do silêncio.
Há uma poesia no deserto.
Que queima durante o dia
exalando lavanda e almíscar.
Queimando-se a revelação
derradeira entre as cinzas
deixam ao vento, seu destino fatal.
A dispersão...
Não há rimas suficientes.
Não há lirismo cabal.
Nem poesias deficientes.
Não há essência fatal.
Nem ciclo inacabado.
São apenas reincidentes.
Pecam e erram novamente.
Tropeçam e gaguejam
diante dos opressores,
diante da chibata,
diante de agressores
acrobatas.
Perfilam razões para existir.
Na contundência do tempo,
na areia da ampulheta
ou apenas nos atritos delicados
em sobreviver e insistir...