Mulher
A genuína literatura é a feminina,
eu como conjunto másculo de carne
compreendo não fazer reais poesias.
A mulher esconde o caos nos seios,
o homem imita a concepção de ordem,
ele se traça sobre o jugo dos conceitos,
a mulher vive a psicose das regras.
Ser mulher é escrever enquanto respira,
abraçar a lividez sem opressões,
pulverizar sua visão de mundo pura,
e logo mais, escravizar-se com a beleza.
Ter músculos e olhos cerrados é útil,
consigo mover-me e andar calmamente;
a mulher anda com desígnios sociais:
com as costas, joelhos e bocas maquiadas.
Descrever a mulher faz-me distante,
nossas biologias e demandas são cabais:
coloca-se o fruto dos desejos no ventre,
colhe-se após o presságio do tempo;
ela amamenta e sente um amor aquém,
o homem na sua percepção ama o vazio:
e neste tchekoviano silêncio...
beija o véu ilusório do que é ser mãe.
A mulher fala existindo e sacrificando-se,
eu, mascando palavras sobre sacrifício.
Maria perdoará os erros dos homens,
Jesus jamais se sacrificará, Jesus é melancolia,
e Maria despediu-se do amor.