Mulher

A genuína literatura é a feminina,

eu como conjunto másculo de carne

compreendo não fazer reais poesias.

A mulher esconde o caos nos seios,

o homem imita a concepção de ordem,

ele se traça sobre o jugo dos conceitos,

a mulher vive a psicose das regras.

Ser mulher é escrever enquanto respira,

abraçar a lividez sem opressões,

pulverizar sua visão de mundo pura,

e logo mais, escravizar-se com a beleza.

Ter músculos e olhos cerrados é útil,

consigo mover-me e andar calmamente;

a mulher anda com desígnios sociais:

com as costas, joelhos e bocas maquiadas.

Descrever a mulher faz-me distante,

nossas biologias e demandas são cabais:

coloca-se o fruto dos desejos no ventre,

colhe-se após o presságio do tempo;

ela amamenta e sente um amor aquém,

o homem na sua percepção ama o vazio:

e neste tchekoviano silêncio...

beija o véu ilusório do que é ser mãe.

A mulher fala existindo e sacrificando-se,

eu, mascando palavras sobre sacrifício.

Maria perdoará os erros dos homens,

Jesus jamais se sacrificará, Jesus é melancolia,

e Maria despediu-se do amor.

Reirazinho
Enviado por Reirazinho em 07/10/2023
Código do texto: T7903460
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2023. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.