Alegoria dos Sentidos
Ao crepúsculo da escuridão
Serpentes peroladas vagueiam entre a relva
Corvos atravessam silenciosamente o firmamento estrelado
Gravita no ar uma seriedade inquisitorial e misteriosa.
Nessa obscuridade da entropia célere da luz
Emergem florestas de heras na alma de um Ser espectador
Este mesmo que ouve, sente, tateia e interpreta.
E sob torpor deste véu difuso
Desvanece o tangível, permanece o irreal...
Apenas mais uma distorção longínqua, inalcançável e subversiva
Uma visão ampliada da parca harmonia
Que, aos poucos,
Como envenenamento por doses homeopáticas
Permeia a percepção do fantástico e do possível
Dissolvendo ou realçando as fábulas de infernos e paraísos.
Mas qual é a visão, afinal?
A obscuridade? O jogo de espelhos com animais sombrios?
A magia trágica da paisagem? Ou a parábola destes versos decadentes?
Ora, essa é apenas a duplicação boçal da realidade
O portal que incita e reflete à dúvida,
Sobrevive em sua íntima pluralidade selvagem.