Detesto o que contenho
Escondido, esquecido, amarrado
Preso dentro de algum lugar que o contenha
E o mantenha entretido e ocupado
Para que esqueça que existe
E o que é capaz de fazer.
Soterrado, algemado, encarcerado
Para que a última luz que veja
Seja a que apagaram quando ali o deixaram
Que pague seus pecados
Que pense em seus erros
Que coma a carne dos dedos, dos punhos
Dos braços
Que seja violentado por sua culpa
E suas desculpas que não se sustentam sem o seu apoio.
Para que aprenda a se portar
E para que entenda, que não se importar,
Enquanto valioso ensinamento sobre egoísmo,
Não passa disso.
Que rebelar-se contra a neutralidade faz-lhe apenas esquisito
E sentir raiva do natural não é normal, como já haviam dito
Que um pouco de ódio é comum
Mas embebedar-se dele é certamente vício
E essa abstinência mata não somente a fonte
Mas todos que bebem ou passam perto dela.
Que sua sala não tem janela para que não envenene o ambiente
E a porta é trancada para que não seja reincidente
Ao crime de existir.
Pois todos já vimos o que acontece
Se por um pequeno momento você escapa.
Como as plantas murcham
Como os prédios desabam
Como o dia que corria agora não acaba
E como o que acabou volta a vida;
Como escorre revolta dessa cisma
Em cima de quem corre assustado,
Perdendo o ar dos pulmões para não morrer afogado,
Na avalanche que desce rapidamente.
Como você repuxa meus nervos
E morde usando minhas presas.
Como você arregala meus olhos fechados
E tapa meus ouvidos para o que não te interessa.
Como você decide o que é útil nesta conversa
E como sinto-lhe tentando controlar estas palavras.
Como todos os dias eu entro no campo de batalha
Sem a certeza de que sairei vitorioso desta vez
Ou em todas as outras;
Ou se existiu alguma vez que venci.
Conforme o tempo passa
Fica mais e mais difícil
Diferenciar você, de mim.
Como última barreira, digo:
Detesto o que contenho;
O que contenho me detesta;
E mesmo que não haja luz passando pelas brechas
Sinto-lhe crescendo
Dominando tudo que toca
E sonhando com o que um dia poderá tocar.