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Que caminhada dura – com espinhos,

Estradas tão desertas – sem carinhos,

Sem cantos dos bons pássaros cantores,

Estradas que só tinham dissabores,

Escuridão sofrida – que tristeza,

Estrada sem nenhuma realeza,

Às vezes tão demente, tão sombria,

Deixando qualquer alma assim fria

Mais uma luz brilhava incessante;

“Não desistais!”falava “Sempre avante!...”

Cansados- tão cansados – nós seguimos –

Mas nunca fatigados – prosseguimos.

A doce e leve chuva de outono,

Bem mansa, abençoava o verde gomo,

Sim verde- muito verde- da esperança,

Querendo nos mostrar a gran bonança

Mas muitos já diziam: “Que distante!

Queríamos chegar lá num instante;

Mas o caminho está dificultoso;

Somente sofrimento e nenhum gozo…”

Choramos, sim, choramos – só choramos,

E a chuva tão dourada, sobre os ramos,

Juntavam-se às lágrimas salgadas,

Limpava as visões entrenubladas,

Que gotas socrossantas – tão amenas

Tornaram nossas faces mais serenas,

Chegamos esquecer dificuldade,

Queríamos só chegar lá na Cidade,

Caminho duro aquele – quanta pedra!

Com rochas pontiagudas – niguém quebra,

Tão finas e cortantes – que navalhas! –

Miríades de miríades como palhas,

Deixamos pela Estrada nosso sangue,

Ficamos, num momento, um tanto exangue,

Pensamos todos nós “Conseguiremos!”

E ali como tememos – sim tememos –

Mas, de repente, um bálsamo tranqüilo,

Curou nossas feridas com estilo:

Não derramamos mais as nossas lágrimas,

Que ardia como fogo de um vinagre nas

Feridas rubras roxas – pustulentas

Ficaram limpas, puras – sim – isentas,

O sol quente, às vezes escaldante,

Queimando-nos com raio radiante,

Deixava-nos co’aquela insolação;

Pensávamos se havia salvação

Ali naquela areia – no deserto,

Até que uma nuvem chegou perto,

Choveu e deu-nos água fresca e sombra;

O chão nos pareceu macia alfombra…

 

(continua…)

Gonçalves Reis
Enviado por Gonçalves Reis em 19/12/2007
Código do texto: T784113
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