Grito Profético
Ahura Mazda se tornou meras cinzas ancestrais
do fogo asfixiado pelas correntezas abismais
dos rios poluídos e cadavéricos da alma humana.
Ainda que sejamos seres aparentemente intuitivos,
O planeta e o universo são indiferentes e aflitivos.
Galopam, doravante, escatologicamente,
entre senados, templos e planaltos desmatados
a imortalidade da alma platonizada, dualística e envelhecida;
o advento messiânico das pedras de tropeço envaidecidas;
o despertar da vida dos avarentos, lazarentos morais,
pois os mortos que jazem na cova estão vívidos mais
do que os errantes caminhantes da selva de cimento.
As Aves de Rapina devoram cada órfão
desta imensa, zoroástrica e funesta nação.
Os velhos ventos silvestres do Leste e do Oeste,
o sermão profético e herético da Esquerda e da Direita,
dos lobos sagazes e dos rebanhos inconscientes,
do fogo incandescente e das chuvas pendentes,
das ideias incongruentes de deus e do deus em si incipiente,
e de todos os lados do devir sangrento deste faroeste decadente.
Todos eles se banqueteiam com o coração dos pobres de espírito,
dos milhões de espantalhos que estendem as mãos
à procura de uma migalha de pão:
deste pão senciente, duro e fremente;
deste pão de trigo tão mendigado, espiritualizado e ausente;
deste pão que silencia e grita a matéria e o verbo presentes;
deste pão agora tão aleijado, cego, vilipendiado e doente...
Enquanto rasgam nossa carne Hienas políticas e Chacais eclesiais,
e esvisceram nossas tripas até chupar os ossos dos filhos e pais
ante o tácito testemunho tórrido, tênue, tímido e inocente
das duas puras crianças de 7 anos [tão tristonhas e sacrificiais]
as quais (famintas, raquíticas e sujas) segam qual místicos missais,
aqueles celestiais cemitérios de maçadas e canaviais.
E as cinzas estripadas do fogo asfixiado de Ahura Mazda
enodoavam as mãos, os cansados olhos e a casta alma
dessas duas veladas crianças, antes tão áureas_
[entalhadas e retalhadas sob o olhar deste céu esquálido e pálido.