DEVANEIOS

DEVANEIOS

Eu quisera viver entre artistas

[numa cidade antiga, onde os homens, as artes

[e os corações dos homens compartilhassem

[os bancos de uma praça nas manhãs de sol.

Eu quisera estar entre poetas, escultores,

[músicos, pintores,... Viajantes mortais como eu.

Quisera tanto dividir com eles as ilusões,

[os sonhos, as poesias, as tristezas e as alegrias

[e os cantos que inventei

[e os versos brancos do meu medo

[e os segredos do meu velho cofre...

Dividir as flores e o pó da estrada e as lições que

o velho Tempo me ensinou.

No paço alegre da praça da cidade antiga

a mistura de risos e de lágrimas,

de mãos velhas se abraçando,

de rugas se cumprimentando, solícitas e plenas.

(Ali, a sensibilidade...)

Sobre as pedras-testemunhas das ruas,

[ouvirei um acordeão chorando

[os velhos soldados que se foram;

[chorando a nostalgia presente no pardo das faces,

[as batalhas perdidas para o tempo algoz

[e as saudades dos heróis companheiros...

(Ali, toda a sensibilidade...)

O belo

O feio

A dor

O amor

(na sua mais simples concepção)

O afeto

O santo

O profano

A bruma, a névoa densa, a Luz!

...Numa mesma moldura.

Eu quisera. Ah, como eu quisera!

No paço da praça antiga,

[numa manhã de sol...

Se assim eu pudesse, dividiria esse vasto campo

onde me refugio. Dividiria meus rios,

minha capelinha branca, meu pão de letras,

o calor de uma Luz amiga,

minha oração sem rimas. O leite que

[que não derramei.

Se assim eu pudesse,

repartia o meu vinho,

minha bandeira, minha canção.

E até os versos de um velho Leopardo...

E depois, embriagado de sol, poesia e paz,

[e vencido de amor,

[embarcaria, brando e feliz,

[no suave descanso

[de uma Musa.

SGV. (1994, possivelmente em Março)