País de Mestres

Chorando sobre a última muda de roupa

Deixada por Alef, Ilda mal podia controlar o pranto e o pensamento,

Tudo que lhe subia a mente àquele momento

Era a partida do querido filho pra um país distante.

 

Humanidade muito pouca evoluída,

Mensagens chegavam pelas mãos de viajantes,

Tudo que Ilda pensava era a partida

Do querido filho pra um país distante.

 

Sobre a muda de roupa que por último usava,

Antes de súbito partir,

Com delicada ternura pousou uma coroa a florir,

Disse palavras em sua memória,

E ali sempre voltava pra que não apagasse da história,

Tudo que ela pensava, a partida do querido filho pra um país distante,

E agora que era lembrança,

Nada era como antes,

Mudou o endereço,

E não ouvia sua voz,

Era 1812, e a distância,

Os mantinha sós.

 

Certa feita o querido filho

Recebeu notícia da amada mãe Ilda,

E mandou uma mensagem por intermédio de um mensageiro,

Achava tudo aquilo um exagero,

Chorar como uma criança ferida,

Sobre as roupas de quem agora morava num país estrangeiro,

Como se fossem na verdade

Sua própria existência e individualidade.

 

"Estou despido,

Mas, não chore sobre minhas vestes,

Aqui vagueio entre os ciprestes,

Muito bem acolhido,

Um neófito num país de mestres,

Não sou eu as minhas vestes,

Não permaneça teu semblante sofrido,

Pois, no tempo escolhido,

Fui muito bem acolhido".

 

E Ilda teve certeza de uma só vez

Que um dia abandonaria também suas vestes

Pra servir-se da nudez,

Neófita num país de metres.

Docke Lima
Enviado por Docke Lima em 26/06/2023
Código do texto: T7822774
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