A dança da brisa
Dançando a luz das minhas próprias ilusões...
mas será que posso chamá-las assim?
Se foi essa infusão de sonhos
que ajustou cada vez mais os meus passos,
outrora presos num embolar de pés débeis,
outrora fartos de pisotear a brita;
Passando do descompasse ao ritmo,
surpresos ao sentirem o assoalho plano,
radiantes por andarem firmes.
Como acreditar que é mera ilusão?
Se já não é mais necessário o apoio do corrimão,
e não há medo dos olhos de quem passa vendo,
(conjecturas fulgazes ou apenas olhares?)
Se já não há receio em escancarar as janelas,
e a ventania em vez de desequilibrar,
torna leve o movimento do vestido?
Deixe-me velejar as ilusões que conquistei,
apreciar o concreto caído que derrubei com sopros;
devanear que está ao alcance das minhas mãos,
(pois há a possibilidade de estar, não?)
Deixe-me, deixe-me...
Ver ainda que esteja com os olhos tampados,
Ouvir o piano ainda que não haja música,
Sentir o aroma doce dos meus sonhos de baunilha.
Pois a cada vez que a minha alma vê esse sol brilhar,
e a minha pele se permite banhar-se nessa brisa,
a dança abraça uma harmonia ímpar,
o equilíbrio de quem aprendeu a girar;
Me permita ser...
e quem sabe as minhas mãos acabem, suavemente,
tocando a bela luz que imaginei?
Porém com os olhos abertos,
com o arrepio da nuca,
Finalmente, no real.