Afresco
Palavra crua que trava garganta
Uma flor nascendo em dia de Sol.
O ontem que morre, o hoje que basta
A grama, vida, estio e a planta
Desenho giz e flor de papel
Nunca esquecer que o céu te merece
Tanto cair que amadurece
Que seu jogo eu quero sempre perder
O ar faltando, mas não de tristeza
Música que toca na ponta da agulha
Pintar dezembro antes que a tinta seque
Flores caindo de tanta beleza
Evaporar até nunca ser
Da tua música, eu menestrel
Pular janela mesmo tendo a chave
Quando eu chorei ouvindo Milton cantar
Cabeça cheia de corpo padece
Caleidoscópio só de coisas lindas
Palavra mansa quando estiver mal
A pausa longa de uma semibreve
Furo de agulha lá no coração
No chão da pele só se vê ranhura
O banho de chuva quando era criança
Acender fogo só com uma fagulha
Comprei vinil de acorde igual
Tu tem "O som, a cor e o suor"
E eu vontade de te dar o mundo
Quem ama sofre, mas nunca está só
E te sorrir onde a vista alcança
Coisas da vida sempre dão nó
Meu coração que nunca te esquece
Da vastidão, da queda sem fundo