...SE EU QUISER FALAR COM DEUS...
Se eu quiser falar com Deus
Tenho que ficar a sós
Tenho que apagar a luz
Tenho que calar a voz
Tenho que encontrar a paz
Ouvindo esta linda música de Gilberto Gil.
(Se eu quiser falar com Deus).
Que exercício difícil ter que ficar a sós e calar a própria voz, confesso , há muito estou imersa nos meus ruídos, nos meus interesses e afazeres. Como escutar a minha voz interior se os ecos do mundo aqui fora ainda reverberam fortemente em mim?
Os pensamentos agitados, as minhas inquietudes me invadem, afloram o limiar da minha consciência.
Sei que há muito tempo tenho evitado o meu silêncio, mas que bom que este momento aconteça, assim posso perceber este distanciamento de mim mesma...
Porquê me descuidei?
É preciso voltar a escutar a minha voz interior, ficar a sós comigo mesma e viver a experiência do silêncio!.
E a música continua,
Se eu quiser falar com Deus
Tenho que folgar os nós
Dos sapatos, da gravata.
Dos desejos, dos receios
Tenho que ter mãos vazias
Ter a alma e o corpo nús.
E as vitrines seduzem e me distraem a todo momento, em cada esquina, uma novidade! Quantas distracões!
Como voltar a ter as "mãos vazias" de ambições desmedidas, para ir ao encontro novamente da verdadeira essência, como "folgar os nós?".
Ah! O desapego, que lugar é esse?
Algumas "crostas" com o tempo vão se formando, é preciso ir eliminando os nossos excessos, as nossas vaidades, desejos, que muitas vezes são simples prazeres dos sentidos.
E que nada nos consuma em demasia, é preciso equilíbrio para não sermos "escravos do mundo".
Os dias passam e nesta pressa perdemos a oportunidade de evoluir e de apreciar as coisas mais valorosas da vida, por mais simples que sejam, os momentos realmente significativos, pois envolto estamos nos nossos próprios anseios e desejos pessoais.
E a música continua,
Se eu quiser falar com Deus
Tenho que me ver tristonho
Tenho que me achar medonho
E apesar de um mal tamanho
Alegrar o meu coração .
Aceitar as nossas imperfeições é o primeiro passo para o reconhecimento da nossa incompletude e aceitar a minha dor, é aceitar o "meu lado medonho" e caminhar na minha própria escuridão.
Reconhecer os meus erros, meu próprio egoísmo, as minhas ausências, as minhas inquietudes , me faz ser mais verdadeira e complacente comigo mesma.
Liberta então das "minhas máscaras" vou adentrando nas "minhas sombras" e com elas tenho um olhar mais atento para olhar os meus próprios complexos.
Agora as máscaras já não me protegem, pois aceito e acolho as sombras que existem em mim.
Uma pequena fresta de luz vai aos poucos iluminando o que antes era escuridão.
Elas agora integram as minhas polaridades, fazendo parte da minha própria condição humana.
"Penso que para falar com o nosso Deus , é preciso se reconectar com o nosso próprio Self, e quando necessário, ao percebermos que estamos saindo do "prumo", viver esta experiência meditativa e contemplativa, ouvindo as nossas próprias vozes interiores.
Nesses momentos, o nosso corpo fica muito mais receptivo, despertando outros sentidos adormecidos, e por que não dizer que os canais se abrem para vivermos uma experiência transcendente em comunhão com o Divino.
Ao libertarmos das nossas várias personas, podemos ter a oportunidade de viver uma existência mais genuína e verdadeira, livres das "amarras" , em busca da nossa própria verdade, do que realmente faz sentido para nós.
Com os valores mais lapidados, mais desprendidos da matéria, talvez se possa viver em recomunhão com o que há de mais sagrado dentro de cada um de nós.
Assim, aos poucos, as mãos, a alma ficam mais leves e o corpo vai se "desnudando", como diz a música.
Devemos ser sempre gratos, entender o nossos propósitos e ideais de vida e agradecer ao Nosso Criador, pelas bênçãos recebidas!
E que essa busca não seja apenas contemplativa, ela deve ser ressignificada a todo momento, pois o caminho que nos leva a transcendência não é linear, ela deve ser sempre lapidada e aprimorada na nossa caminhada evolutiva.
Quem sabe assim, através da tríade corpo, mente e espírito em equilibrio e da amplificação da nossa consciência reflexiva, podemos alcançar a verdadeira religação com o Divino e realmente poder ouvir e falar com o nosso Deus!...
Este artigo foi embasado em uma leitura psicológica, baseado nos conceitos de Yung, porém cada um de nós têm a sua própria forma de pensar e encontrar o seu próprio Deus, não importa qual ele seja, através das suas próprias convicções, crenças, credos , religião e visão de mundo!
A música é muito extensa, tomei a liberdade de extrair alguns versos apenas, para o seu conteúdo não ficar cansativo para os leitores.
"O padrão de Deus existe em cada homem, e esse padrão é a maior energia transformadora que a vida é capaz de oferecer ao indivíduo. Encontre este padrão em você mesmo e a vida será transformada."
(Carl Gustav Jung).