De Profundis
Assim me vejo: vislumbre, em alto mar,
De caudalosas frequências nostálgicas
E aqui em meu peito as memórias náuticas
Longínquas vêm ao meu contemplar.
Sopra ao rosto o vento norte; e pairam no ar,
Suspensas inda em véus de lágrimas,
Cristalinas e marítimas
E num entrelaçar às retumbantes batidas cardíacas, vêm áuricas
As vaporosas cenas do passado num sonar.
Distancio-me, e em meio ao sopro molhado perco-me,
Sou de todo corpo às ondas que me engolem lá dos céus
E à chuva que desaba pelo mar.
Oceano,
Das almas que desaguam em sentimentos
Eis tu o gargantuano.
Tu, eis tu,
Que em densidade e em abismo
Fulguras o azul
De profundis e divino.
Feixes de luz a iluminar:
Tentáculos refratados
Da sublime luz solar.
Sou dois mundos:
Habito o caos da tempestade
E a pompa e majestade
Do frenesi silencioso
Ao mergulhar.
(Gênnifer Gonçalves)